Um dos filmes mais comentados da temporada, o novo Scorsese-Leonardo vem chegando timidamente às telas brasileiras, num regime de pré-estreia estendida que culmina na estreia oficial no dia 24 de janeiro. Se você também não vê a hora de conferir “O Lobo de Wall Street”, prepare-se para encarar três longas horas de quantos fucks puder digerir.
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O filme se baseia na autobiografia de Jordan Belfort para contar a trajetória de ascensão, queda e volta por cima de um corretor de ações com incrível habilidade para persuasão e gosto pelo dinheiro. Mas Martin Scorsese não se limita à biografia e incorpora um corpo de personagens e situações memoráveis para discutir riqueza (real e virtual) e os limites da diversão.
Com tantos dólares em cena, é claro, vêm toneladas de palavrões, drogas, prostitutas, iates e bancos na suíça. O diretor quer chocar, provocar, denunciar às avessas a corrupção do capitalismo financeiro mostrando o lado “bom” desse universo - encarando os poucos dilemas éticos sob seu humor peculiar. A fórmula funciona: mesmo quem não gostou do resultado saiu incomodado, talvez até revoltado, seja pelo filme ou pela realidade que vê diariamente nos jornais.
Não é a mesma realidade, é claro: tudo ali é excessivamente caricato, o que torna o “Lobo” tão difícil de decifrar. O que vemos não é o que os corretores realmente fazem, não é como as bolsas de valores realmente são, não é o que o dinheiro realmente traz. É o retrato dos desejos alimentados por esse sistema: se tenho dinheiro, quero fazer uma festa, extravasar, esquecer as regras, ser irresponsável, ser adolescente para sempre dentro de meu terno Armani.
Essa percepção irônica da felicidade é ao mesmo tempo o trunfo e a maior fraqueza do filme. Ora, se Jordan (Leonardo DiCaprio) e todos os seus colegas têm exatamente as mesmas ambições infantis, como iremos nos identificar com um ou com o outro? Como torcer pela vitória de um protagonista por quem sentimos um misto de pena e raiva? A solução, talvez, seja não torcer: apenas observar o caos que o verdadeiro protagonista (o dinheiro) causa à sua volta.
Na primeira parte do filme, conhecemos o excêntrico chefe de Jordan - interpretado brilhantemente por Matthew McConaughey (que vem se reerguendo com trabalhos como Clube de Compras Dallas e está na corrida pelo Oscar de Melhor Ator). Também comprovamos o poder da lábia do jovem estagiário e acompanhamos sua ascensão até a abertura da própria corretora, ao lado de um sócio improvável (Jonah Hill). Daí para a frente é ladeira acima.
O encanto começa a perder o efeito depois da décima carreira de cocaína e do vigésimo par de seios falsos. É quando começamos a olhar para o cenário, as cadeiras, o relógio... Até que, lá pelas tantas, uma sequência hilária envolvendo uma droga especial, uma Lamborghini e um fio de telefone nos arrasta de volta ao filme e para fora do tédio. É aí que nos lembramos por que DiCaprio é um dos atores mais importantes da atualidade.
Se a ascensão de Jordan é meteórica, sua queda e redenção ocupam não mais do que um discreto comentário perto do final do filme – o que desaponta, mas não surpreende. Jordan merecia um final mais imponente? Provavelmente não.
O objetivo de Scorsese, afinal, nunca foi contar a história desse homem, mas fazer piada com o modelo de economia que fez dos Estados Unidos o “país das oportunidades” que ele tanto se gaba de ser. Sarcástico, o cineasta nos lança uma delicada questão moral: não será hipócrita, numa sociedade que coloca o dinheiro acima da humanidade, achar que há algo de errado em enriquecer nas brechas do sistema?
Assista se você:
- É fã de Martin Scorsese (especialmente "Os Bons Companheiros")
- Gosta de filmes sobre corrupção e a Bolsa de Valores
- Quer ver a atuação candidata ao Oscar de Leonardo DiCaprio
Não assista se você:
- Não gosta de filmes longos
- Não vê graça em espiar o estilo de vida de milionários
- Não quer ver personagens preconceituosos
Por Juliana Varella
Atualizado em 23 Jan 2014.