Não bastava atuar numa língua estrangeira. Carolina Dieckman, sempre atraída por desafios, também precisou abrir seu novo filme – o excelente “O Silêncio do Céu”, de Marco Dutra – com a cena mais pesada que uma mulher poderia interpretar. Sim, essa mesma.
“O Silêncio do Céu”, que estreia no dia 22 de setembro nos cinemas, conta a história de uma mulher que é violentada dentro de sua casa por dois homens. Seu marido (interpretado por Leonardo Sbaraglia) testemunha o crime, mas se esconde e fica paralisado, sem conseguir agir. Depois, incomodado pelo silêncio da esposa e com sua própria covardia, decide ir atrás dos criminosos em busca de vingança e redenção.
Dutra ficou conhecido por explorar um terror extremamente autoral com um quê de fantasia em “Quando Eu Era Vivo” e “Trabalhar Cansa”, mas, aqui, ele deixa de lado a linguagem experimental e mostra ao público uma obra mais linear, madura e extremamente intensa. O roteiro, desta vez, não é seu: “O Silêncio do Céu” é baseado no livro “Era El Cielo”, do argentino Sergio Bizzio, com adaptação de Lucía Puenzo e Caetano Gotardo.
Também são argentinos alguns dos atores principais, como Sbaraglia e Chino Darín (filho de Ricardo Darín), que interpreta um dos estupradores. O restante do elenco é majoritariamente uruguaio e a língua predominante é o espanhol – inclusive falado por Dieckman, que vive uma brasileira morando em Montevidéu, onde o filme foi rodado.
A diferença de nacionalidade não é gratuita: além da violência, o filme trabalha o tema do diálogo (ou da falta dele) no relacionamento. Enterrados em seus medos, Diana (Dieckman) e Mário (Sbaraglia) inventam personagens bem resolvidos para apresentarem um ao outro, guardando suas inseguranças para si e sabotando o casamento pouco a pouco com silêncios e mentiras bem-intencionadas. Em meio à tragédia, essas “personas” ganham ainda mais força, como se fosse possível lidar com a situação sem jamais encará-la de frente.
“O Silêncio do Céu” contrasta esse silêncio conjugal com generosas narrações em off, alternando as perspectivas para explorar uma espécie de diálogo de cada personagem consigo mesmo – tudo o que eles não dizem um ao outro, é narrado sem filtros ao espectador. A tragédia, portanto, não se limita ao que ocorre nos primeiros minutos de filme, mas se expande de dentro para fora até tornar-se irreparável.
Por Juliana Varella
Atualizado em 13 Set 2016.