Existem filmes agradáveis e existem filmes necessários. “Para Sempre Alice”, drama de Richard Glatzer e Wash Westmoreland sobre Alzheimer precoce, se encaixa na segunda categoria – é um filme lindo, essencial, mas você não vai querer assistir duas vezes.
Julianne Moore concorre ao Oscar pelo papel de Alice Howland, uma professora de linguística que acaba de completar 50 anos, é casada, tem três filhos seu hobby é brincar de palavras cruzadas, no nível mais difícil possível. Um dia, ela começa a esquecer essas palavras. No outro, perde a direção, dentro do campus onde sempre trabalhou.
Depois de algumas visitas ao neurologista, Alice descobre que tem um tipo raro de Alzheimer – um tipo genético, que, além de atacar muito mais cedo que o comum, pode estar adormecido em um dos seus filhos. Dói só de pensar, não? Espere, fica pior.
A doença não transforma seu portador de uma hora para a outra, mas evolui lentamente e traiçoeiramente. Alice, portanto, tem consciência de seus erros e seus esquecimentos e sente-se humilhada por eles – afinal, sua identidade era a de uma mulher extremamente culta e segura. Agora, sua fala está cada vez mais confusa, ela não consegue encontrar o caminho do banheiro e teme o dia em que esquecerá o nome da filha mais velha.
O filme tem o mérito de não escolher a tragédia como ponto final, mas sim inicial: o Alzheimer serve de gatilho para a discussão de temas universais como a noção de identidade, a percepção do outro, a adaptação da família, o amor incondicional e valores que muitas vezes deixamos de questionar, como o dinheiro e o estudo.
É certo continuar priorizando o trabalho diante da perda iminente de alguém? É certo, por outro lado, abandonar a rotina para esperar a evolução natural da doença? Como continuar sendo Alice, quando Alice não se reconhece mais?
“Para Sempre Alice” consegue evitar o melodrama intrínseco das histórias de enfermidades e mostrar um outro lado da situação – mais verdadeiro e mais difícil. Porque encarar a mudança pode ser mais duro do que enfrentar a perda, mas, no processo, aprende-se que, mesmo sem a memória e sem a articulação que antes a definiam, a vítima de Alzheimer continua viva, continua humana e continua amando e sendo amada.
Por Juliana Varella
Atualizado em 12 Mar 2015.