Se fosse para adivinhar quem venceria a guerra entre humanos e macacos, apenas pelo elenco de “Planeta dos Macacos: O Confronto”, os homo-sapiens não teriam nenhuma chance. No segundo filme da terceira franquia inspirada no livro de Pierre Boulle, são os símios que desenvolvem os principais conflitos e se relacionam de formas infinitamente mais complexas que seus primos despelados.
Diferentemente do primeiro filme (“Planeta dos Macacos: A Origem”, de Rupert Wyatt), “O Confronto”, dirigido por Matt Reeves, dá menos espaço para as reflexões ético-científicas e mais (muito mais) para a ação. Mas este ainda não é um filme de guerra: é sobre as vésperas de uma guerra, e mostra como certas decisões tornam o confronto inevitável.
Desde “A Origem”, passaram-se dez anos e a humanidade foi praticamente dizimada pelo vírus que modificara os macacos. “Gripe símia”, apelidaram-na. Os poucos que sobraram apertam-se em pequenas fortalezas, amedrontados. Não há sinal de James Franco.
Andy Serkis volta a vestir a armadura de sensores digitais que o transformam em Caesar, o líder dos macacos hiperinteligentes que fugiram de São Francisco no último filme. Agora eles estão instalados, como uma família e uma comunidade autônoma, no parque nacional do outro lado da ponte.
Não é por acaso que Serkis é reconhecido como o mestre da captura de movimento. Seu Caesar, como seu Gollum, tem mais vida que muitos personagens humanos e mais expressão, também. Há um grande mérito da equipe de animação, mas a boca cerrada e pensativa, os movimentos pesados, porém ágeis, e os olhos que abrem e encerram o filme são fruto de um cuidadoso trabalho de criação do ator.
Quem surpreende é Toby Kebbell, que substitui Christopher Gordon no papel de Koba, o macaco de ar maligno, cego de um olho, que apareceu no primeiro filme como outra cobaia do laboratório. Aqui, ele assume a posição de braço-direito de Caesar, mas desde o início sabemos que seu temperamento trará problemas.
Se há alguns inimigos entre os humanos, nenhum deles se aproxima da ameaça que é ter uma bomba-relógio dentro da própria comunidade símia. Motivado pela vingança (por ter sofrido enquanto cobaia) e pelo medo (notando que os humanos têm um estoque de armas de fogo), Koba tem razões suficientes para começar uma guerra, mas é contido, apenas, por seu respeito a Caesar.
Do lado dos humanos, a situação não é tão diferente: pressionados pela necessidade de ativar uma hidrelétrica no território dos macacos, homens como Dreyfus (Gary Oldman) apressam-se em optar pela luta. Malcolm (Jason Clarke, pouco memorável) e sua família parecem ser os únicos a considerarem uma solução pacífica e tentam negociar com o líder dos “inimigos”.
O filme explora em profundidade o pensamento bélico, suas origens e sua lógica: mesmo que prejudicial às duas partes, o confronto é a consequência mais humana do encontro de dois povos amedrontados, cada qual com sua pequena parcela de extremistas.
É irônico que as reações mais passionais venham do lado menos humano. É entre os macacos que se desenrola uma trama shakespeareana, transbordando com dilemas morais, traições e jogos de poder – tudo isso à parte do conflito inter-racial, que acaba sendo mera consequência dessa desestabilidade.
“Planeta dos Macacos: O Confronto” acerta nas grandes questões, mas falha nos detalhes: há falas excessivas para os macacos (que são, essencialmente, mudos) e um personagem importante tem seu arco mal acabado (Olhos Azuis, filho de Caesar). Além disso, dificilmente alguém se identificará com aqueles humanos rasos a ponto de se importar se eles vencerão ou perderão a guerra. Que reinem, logo, os macacos.
Assista se você:
- Gosta do livro ou dos filmes inspirados em “Planeta dos Macacos”
- Quer ver um filme de ação inteligente
- Quer conferir a evolução da tecnologia de CGI e captura de movimentos
Não assista se você:
- Não gostou de “Planeta dos macacos: A Origem”
- Não gosta de filmes sobre guerra
- Quer torcer pelos humanos
Por Juliana Varella
Atualizado em 21 Jul 2014.