O gado bebe leite, o rato come queijo e Selton Mello é O Palhaço. Quem assistir ao filme - dirigido e protagonizado pelo ator - vai entender a carga emocional presente nesta frase, que pode parecer sem sentido à primeira vista. Spoilers à parte, vamos falar sobre o longa que estreia em circuito nacional em 28 de outubro.
Pela segunda vez na direção (a primeira foi em 2008, com Feliz Natal), Selton traz para as telonas uma história sobre o reencontro de um palhaço consigo mesmo. Se bem que o personagem principal poderia ser um professor, um médico ou um ator. Afinal, quem nunca se deparou com a dúvida sobre a felicidade pessoal em relação à profissão?
Então, podemos nos perguntar se é um filme autobiográfico, já que Selton Mello enfrentou um período de depressão no qual chegou a cogitar a hipótese de deixar de atuar. Ele diz que não. “Mas me identifico com Benjamim [o palhaço em crise existencial]. Há 30 anos eu acho que deveria desistir e há 30 anos eu descubro algo lindo que me põe pra frente”, afirma.
No picadeiro
Quando veste a roupa xadrez e coloca o nariz vermelho, Benjamin se transforma no palhaço Pangaré. Ele viaja pelo interior do país se apresentando sob lonas precárias e fazendo rir um público humilde, sempre ao lado de seu pai, o palhaço Puro Sangue (interpretado por Paulo José), e da trupe do Circo Esperança - uma verdadeira família que, unida, se diverte e passa por vários perrengues.
Mas sem casa, sem um documento de identidade, obcecado por ventiladores (que nunca pôde comprar) e com o clássico questionamento “Eu faço os outros rirem, mas quem é que vai me fazer rir?”, Benjamim decide abandonar o picadeiro.
Mas, sim, ele consegue encontrar as respostas para se encontrar e decidir qual caminho deve seguir para ser feliz. E também compra o tão sonhado ventilador.
Pangaré e Puro Sangue
A sintonia entre Selton Mello e Paulo José no picadeiro do Circo Esperança é facilmente compreendida quando vemos os dois interagindo fora de cena.
Para começar, o veterano dos palcos denuncia (sempre em tom de brincadeira) o diretor, dizendo que Selton é uma fera no comando. “Mas diretor bonzinho é chato. Tem que saber o que quer”, complementa. Mas depois elogia o profissional: "É o mais talentoso dessa geração”.
Outra explicação para a química entre os atores é o tempo de convivência entre eles. Vizinhos, se conhecem há cerca de 20 anos e demonstram uma clara admiração mútua.
Mix Premiado
Misturando atores novos no cenário cinematográfico, veteranos e “figuras que deveriam estar mais em evidência, como Moacyr Franco e Ferrugem” (nas palavras de Selton Mello), O Palhaço conquistou os jurados no Festival de Paulínia, levando quatro prêmios: direção, ator coadjuvante (Moacyr Franco), roteiro e figurino.
Ainda figuram no elenco nomes como a pequena e talentosa Larissa Manoela, Teuda Bara, Álamo Facó, Cadu Fávero, Erom Cordeiro, Giselle Motta, Hossen Minussi, com participações especiais de Fabiana Karla, Jackson Antunes, Ferrugem, Tonico Pereira e Danton Mello.
Por Mariana Viola
Atualizado em 10 Abr 2012.