Hollywood: a “Meca” do cinema, sinônimo de glamour, tecnologia e criatividade. Ou, pelo menos, em outros tempos. Em 2013, o público que procurou algo novo nas telonas deu de cara com uma infinidade de sequências, “prequels”, adaptações, remakes ou clichês requentados de antigos sucessos de gênero. Teriam os roteiristas ficado menos criativos?
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A resposta (felizmente, talvez) é não. Não faltam ideias, o que falta ao maior pólo audiovisual do mundo é vontade – ou visão. Precisamos nos lembrar todos os dias de que o cinema atual não é arte, mas sim indústria, ou uma mistura dos dois, portanto precisa ser rentável.
Comercialmente falando, sequências são de fato um dos negócios mais seguros do mundo para se investir milhões de dólares: o público já conhece os personagens, já sabe o que esperar, sem contar que precisará ver aquele filme caso queira entender o próximo spin-off no ano que vem – afinal, hoje não se fala mais em séries lineares, mas em redes de filmes ou “universos cinemáticos”.
Além disso, a sequência cria o hábito: esperar pelo próximo “Batman” ou “007”, hoje, é como esperar pelo próximo episódio de sua série favorita na TV. Algo que faz parte da rotina.
As séries, aliás, estão entrando na fila para virarem filmes e vice-versa (quem aposta que “Game of Thrones” ganhará os cinemas num futuro próximo?). “Veronica Mars” já está em produção. Outro investimento certo são as adaptações – sejam elas de livros, quadrinhos ou meros artigos jornalísticos, como foi o caso de “The Bling Ring”, de Sofia Coppola.
Remakes seguem a mesma lógica, mas têm se mostrado muito menos bem-sucedidos. “Oldboy”, lançado recentemente nos Estados Unidos, recontou a história do filme sul-coreano de Park Chan-Wook e ficou marcado como um dos maiores fracassos do ano: arrecadou pouco mais de US$ 4 milhões (até o momento), contra quase US$ 15 milhões do original. O orçamento? US$ 30 milhões.
Com produções cada vez mais caras (que podem chegar a US$ 200 milhões), é natural que os estúdios não queiram investir em histórias ainda não testadas, que podem ou não agradar ao público. O que eles não estão vendo, porém, é que isso é um tiro no pé.
Em pouco tempo, esse mercado de “marmitas cinematográficas” chegará ao limite e o público vai pedir por mais, ou simplesmente (e mais provavelmente) migrará para a internet – e para plataformas como o Netflix, onde terão mais chances de encontrar histórias originais.
É importante notar, contudo, que, se a “epidemia” de sequências é fenômeno recente no mercado cinematográfico, as adaptações sempre foram combustível para grandes sucessos. Entre os dez filmes mais vistos de todos os tempos, metade são inspirados em livros ou contos literários (e datam dos anos 30, 50 e 60, como “A Branca de Neve” e “E o Vento Levou”).
Se voltarmos no tempo em 20 anos, 7 entre as 10 maiores bilheterias eram adaptações – mas não se viam sequências. Dez anos depois, havia na lista 5 sequências, além de 2 sequências de adaptações (das franquias “O Senhor dos Anéis” e “X-Men”).
Em 2013, apenas 2 originais sobrevivem heroicamente entre os filmes mais vistos: “Gravidade” e “Os Croods”. Os demais se dividem entre sequências (incluindo o sexto filme de “Velozes e Furiosos”), adaptações e sequências de adaptações.
Em outras palavras, as franquias começaram a ganhar força nos anos 2000, com a renovação da saga “Star Wars”, a invasão dos super-heróis e a inauguração de séries animadas (com “Shrek” e “A Era do Gelo”). Paralelamente, os quadrinhos ganharam força como fonte de inspiração para o cinema, ao lado de livros juvenis – que já superam os adultos nas adaptações de sucesso.
O resultado dessa massificação em Hollywood é que obras mais independentes têm encontrado sua brecha: “Fruitvale Station” e “Frances Ha” são bons exemplos disso, tendo conquistado sua fama por meio de festivais e boca-a-boca.
Existe, é claro, algum espaço para obras originais em Hollywood. Nos últimos anos, sucessos como “Truque de Mestre”, “Círculo de Fogo” e “Elysium” investiram pesado em efeitos especiais, mas conseguiram retorno ao estimularem a imaginação do público com desafios de ilusionismo ou propostas de sociedades futuristas.
Por outro lado, é mais comum que ganhem o aval dos estúdios projetos menos dispendiosos de diretores consagrados, como “Blue Jasmine” (Woody Allen) ou “Inside Llewyn Davis” (irmãos Coen) - que atraem um público tão fiel quanto os das sequências.
No fim, o que o espectador quer não é rever seus heróis favoritos até se cansar deles, mas sim conhecer novos personagens interessantes e novos mundos fantásticos para onde possa viajar nos momentos de lazer.
O fã poderá, sim, querer conhecer melhor esse mundo e mergulhar fundo em todas as suas possibilidades, como um espectador de suspense que busca a investigação minuciosa. Mas a verdade é que, se ele realmente fizer isso, provavelmente irá se entediar. E não haverá “retorno”, “origem” ou “confronto final” que possa salvar Hollywood do cansaço.
Por Juliana Varella
Atualizado em 17 Nov 2015.