Já faz nove anos que “Sin City” se impôs pela primeira vez nos cinemas como uma obra de arte. A mistura de graphic novel com filme em live action inspiraria outros tantos trabalhos, como “300” e “Spirit”, mas apenas a cidade do pecado tinha raízes estilísticas tão fincadas nos quadrinhos originais. Quase uma década depois, a chegada da primeira sequência levanta altas espectativas, mas prova o que muita gente já sabia: nem só de estilo é feito o cinema.
“Sin City: A Dama Fatal” dá sequência aos eventos do longa anterior, com didatismo suficiente para entreter quem não o viu ou não se lembra das primeiras histórias. O prólogo é promissor, mostrando em passo lento e narração em off os pensamentos confusos de Marv (Mickey Rourke), em primeira pessoa como seria na HQ. Seu arco é violento e anuncia o banho de sangue que está por vir, mas, até então, o ritmo está certo e o clima noir prevalece.
A segunda sub-trama acompanha o ganancioso Johnny (Joseph Gordon-Levitt) numa jornada rumo à mesa de pôquer mais perigosa da cidade, a do senador Roark (Powers Boothe). Levitt é uma aquisição interessante ao elenco, incorporando o perfeito anti-herói: ao mesmo tempo irritante com seu complexo de dono-do-mundo e intrigante por sua determinação sem limites.
No terceiro ato, conhecemos finalmente a Dama Fatal. Ava Lord, interpretada por Eva Green, tem olhos intensamente verdes, boca vermelha e um casaco-vestido azul brilhante. Mas não se engane: são os seios que realmente simbolizam seu poder. Eles desfilam fartos com liberdade irrestrita, como se ela tivesse sido contratada exclusivamente para mostrá-los (o que não é de todo improvável, dado seu histórico com nus frontais).
Dwight (Josh Brolin, que entrou no lugar de Clive Owen) sabe que não pode confiar nessa mulher, assim como o público, que a conhece de outros papéis. Ele, contudo, não consegue dizer não. É seu escravo.
O desenvolvimento de Ava leva o filme para um caminho menos sombrio e mais trash; menos Frank Miller e mais Robert Rodriguez (ambos diretores deste longa). Cenas de sexo são ridicularizadas, a violência atinge níveis grotescos, os diálogos descambam para a caricatura (será preciso dizer com todas as palavras que ela é manipuladora?).
A história da Dama soa tão artificial que uma sub-trama inteira é inserida sem qualquer consequência para os outros personagens, só para comprovar seu caráter. O desfecho, por sua vez, não traz nenhuma surpresa e soa novelesco.
A última protagonista é a única que de fato mostra uma evolução ao longo do filme: Nancy Callahan (Jessica Alba). Conhecemos a loirinha no primeiro longa e vimos seu crescimento, de criança indefesa a dançarina sensual. Conhecemos também seu protetor John Hartigan (Bruce Willis) e seu destino. Agora, Nancy nutre um rancor profundo pelo passado e um ódio pelo senador Roark, mas não tem coragem para matá-lo.
Apesar do roteiro pouco convincente e dos escorregões rodrigueanos, “Sin City – A Dama Fatal” repete o impacto visual do filme de 2005. O branco-e-preto chapado funciona ainda melhor em 3D e Miller consegue dosar bem as cenas mais gráficas, quebrando o realismo de tempos em tempos com silhuetas negativas, sombras e brilhos intensos.
Para quem procura alguns minutos de diversão com um toque diferente, o filme é a aposta certa. Se a espectativa é sentir a mesma tensão do primeiro longa, porém, esqueça. Faça uma visita à banca e procure pela HQ original.
Assista se você:
- Gosta de filmes visualmente impactantes
- Quer saber o que aconteceu com os personagens de Sin City (2005)
- É fã de Eva Green
Não assista se você:
- Espera um filme noir, com tramas complexas como no filme anterior
- Não gosta de filmes violentos
- Não gosta de HQs
Por Juliana Varella
Atualizado em 27 Set 2014.