Chega ao Brasil o segundo longa-metragem do diretor australiano David Michôd, que estreou em 2010 com “Reino “Animal” e agora aposta mais alto com “The Rover – A Caçada”. Lançado no festival de Cannes deste ano, este faroeste contemporâneo propõe uma jornada de redenção que tenta resgatar a humanidade perdida num mundo árido e sem lei.
Talvez a história se passe no futuro, talvez não. O fato é que se foram dez anos desde “o colapso”, o qual ninguém especifica, mas nem é preciso: o ambiente, o protagonista e todos os rostos agressivos e cansados que ele encontra no caminho fazem pensar em mais de um tipo de trauma. O maior deles, a indiferença.
Guy Pearce é o coração do filme e da história: seu personagem, que acompanhamos numa jornada violenta pelo deserto australiano, não revela o nome e carrega um passado obscuro, que o moldou como uma espécie de justiceiro às avessas. Sozinho e marcado pelo sol, ele parece não sentir mais nada e apenas saborear o amargor de cada minuto – isso até roubarem o seu carro.
O crime acontece rápida e um pouco atrapalhadamente, de forma que o protagonista acaba com uma caminhonete emperrada (capotada pelos bandidos) no lugar de seu sedan (usado para a fuga). A caminhonete funciona muito bem, mas isso não o impede de tentar recuperar, obsessivamente, seu carro original.
A gangue fugia de um confronto com militares, onde haviam largado o corpo de um garoto gravemente ferido – Rey (Robert Pattinson), o irmão mais novo de um dos fugitivos. Rey eventualmente encontra o personagem de Pearce, que, interessado na ajuda do garoto, incita nele o sentimento de vingança contra o irmão.
Se Pearce endurece seu personagem apenas com os olhos, Pattinson precisa do corpo todo para dar vida ao frágil e mentalmente perturbado Rey. Com um sotaque carregado, postura curvada e olhos agitados, o ator cria um jovem educado nas ruas, ingênuo mas impulsivo, que quer se tornar forte como o irmão ou como sua nova figura paterna. O resultado causa estranheza, mas também amplifica o interesse pelo desfecho dessa perseguição, que só pode ser trágico.
“The Rover – A Caçada” é para quem tem estômago forte: seus tiros são relativamente poucos (comparados a outros filmes do gênero), mas cada vítima ganha sua devida atenção e a câmera não desvia o olhar. O colapso é evidente.
Assista se você:
- Gosta de filmes violentos
- Gosta de filmes com protagonistas solitários
- Quer ver boas atuações de Guy Pearce e Robert Pattinson
Não assista se você:
- Não gosta de filmes violentos
- Não gosta de faroestes ou de universos ficcionais sem lei
- Procura um filme de ação mais agitado
Por Juliana Varella
Atualizado em 31 Jul 2014.