Depois de três aventuras explosivas regadas a humor, mulheres seminuas, carros e robôs, o público de “Transformers” pode pensar que já viu de tudo. Antes fosse. Com “Transformers: A Era da Extinção”, Michael Bay mostra que ainda tem surpresas para os fãs da franquia, mas deixa claro que roteiro e elenco são cuidados que ficaram para trás.
O quarto filme da saga tem quase três horas de duração e um time de atores totalmente renovado. A expectativa é que ele inicie uma nova trilogia, o que, considerando os números somados no fim de semana de estreia (cerca de US$ 100 milhões apenas nos EUA), não seria surpresa.
“A Era da Extinção” (que, apesar do nome, nem arranha a questão) se passa alguns anos após a batalha do terceiro filme, quando Autobots defenderam os humanos contra ataques de Decepticons. Agora, uma empresa de tecnologia trabalha em parceria com o governo americano para, secretamente, caçar os dois tipos de Transformers (amigos ou não) e extrair seu metal transformável para construir, entre outras coisas, novos robôs.
Optimus Prime, escondido num cinema abandonado na forma de um caminhão (sem nenhum motivo aparente senão criar a oportunidade para fazer a piada “remakes e sequências acabaram com o meu negócio!”), é encontrado por Cade Yeager (Mark Whalberg), um inventor que vive numa fazenda no Texas com a filha, Tessa (Nicola Peltz).
O elenco humano acrescenta muito pouco à nova fórmula: como era de se esperar de um filme onde todos os protagonistas-robôs são masculinos e quase todos os humanos também, Tessa é uma personagem altamente dependente dos homens: não pode pagar a própria faculdade, conseguir uma bolsa de estudos, manejar uma arma ou sonhar em dirigir um carro.
Seu namorado, Shane (Jack Reynor), é um piloto de corrida com pouco ou nenhum respeito pelo sogro, e passa o filme todo enfrentando o “rival”, como se disputasse a posse da garota. Cade, por sua vez, não faz mais do que sonhar com uma invenção que caia em seu colo (como Prime acaba fazendo) e, a partir daí, correr de um lado para o outro atrás dos robôs.
O cenário rural contrasta com o visual jovem-moderninho que dominou os primeiros filmes e parece deslocado diante daqueles carros possantes e monstros high-tech. Seus habitantes também não convencem como texanos, nem no bronzeado, nem no figurino, muito menos nas maneiras excessivamente refinadas. Meros detalhes, num filme onde os únicos personagens pensantes são feitos de metal.
Apesar de ser o herói do filme e da franquia, Prime não dá o melhor dos exemplos como líder do “exército bom”: numa cena que deveria inspirar respeito e autoridade, o robô usa de violência para convencer um Dinobot a ajudá-lo. Depois de derrotado, o outro é subjulgado e reduzido a meio de transporte (mesmo que suas patas sejam mais lentas que as rodas de qualquer Autobot).
Note que Prime demonstra superioridade montando outro Transformer, assim como Caesar se diferenciou dos animais ao montar um cavalo em “Planeta dos Macacos: A Origem”. O simbolismo estava claro, mas o roteiro preguiçoso reforça a ideia com um comentário de outro personagem: “isso é que é um líder!”.
Se alguns fãs foram atraídos pelo título sugestivo e a promessa de dinossauros metálicos, é preciso avisar que esses robôs só aparecem depois de duas horas ou mais, e que nenhuma das raças chega a correr nenhum risco sério de extinção. Golpe de marketing ou falha no roteiro? Provavelmente, as duas coisas.
Quem garante um pouco de humor é o multifacetado Stanley Tucci, que interpreta o gênio da tecnologia Joshua Joyce, responsável pelo estudo do metal alienígena e pela criação de novos Transformers. Joyce não chega, contudo, a ser um personagem vilânico: os antagonistas são Megatron (reformado e manipulador como nunca) e Lockdown, um novo alienígena que tenta capturar Prime para devolvê-lo ao seu “criador”.
A origem de Lockdown e a identidade desse criador dariam assunto suficiente para um novo filme, e certamente os veremos novamente, em breve. Haja fôlego.
Assista se você:
- É (muito) fã da franquia Transformers
- Quer ver novos robôs e novas lutas
- Gosta de filmes de ação com muitos efeitos especiais
Não assista se você:
- Não gostou ou gostou apenas um pouco dos filmes anteriores
- Não quer ver um filme com mais de 2h
- Gosta de filmes de ação, mas com personagens complexos e interessantes
Por Juliana Varella
Atualizado em 17 Jul 2014.