O começo de uma queda é sempre o momento mais intenso, onde se concentra a surpresa, o medo, aquele arrepio cheio de adrenalina. O mesmo acontece com Uma Longa Queda, adaptação de Pascal Chaumeil para o romance de Nick Hornby: os primeiros minutos acertam no tom, misturando um texto sarcástico a uma trilha cômica e impactante. O problema é o que vem depois.
A história dos quatro londrinos que tentam se matar no mesmo prédio, na mesma noite de Ano Novo, e que decidem adiar o ato depois de estragarem o suicídio uns dos outros, escorrega e perde primeiro o humor, depois o interesse. Por fim, cai numa sequência de piadas infantis que poderiam valer para qualquer comédia familiar de tema menos pretensioso.
Pierce Brosnan tem presença e carrega seu drama com o peso certo nos momentos iniciais - quando descobrimos que ele é Martin Sharp, um ex-apresentador de televisão que foi preso por se envolver com uma menor e perdeu emprego, família e dignidade. Aos poucos, contudo, seu personagem vai atrofiando para um estereótipo de ex-celebridade, rico, vaidoso e sem qualquer empatia por seus companheiros.
O mesmo acontece com os outros três: Imogen Poots é a adolescente revoltada filha-de-político Jess (em papel que lembra muito o de De Repente Pai), Aaron Paul é o músico frustrado J.J. e Toni Collette é Maureen, a mãe que abdicou da vida para cuidar do filho doente. Pouco ficamos sabendo da vida e das motivações de cada um, exceto pelo pouco que eles contam uns aos outros.
Ao desistir do suicídio, o quarteto faz um pacto para permanecer vivo até o Dia dos Namorados. Sua história vai parar nos jornais e Martin (diferente do livro) sugere que eles usem a mídia a seu favor. A ideia não dá certo e eles decidem viajar. Lá, J. J. se envolve com uma garota (que, previsivelmente, se revela uma jornalista) e Jess deixa escapar que gosta dele – porque é quase obrigatório que dois jovens atraentes fiquem juntos no final.
De clichê em clichê, o drama vai se desenrolando num formato de auto-ajuda, enfatizando uma superação da carência inicial por meio da amizade eterna entre os quatro suicidas. No fim, é claro, todos vivem felizes para sempre.
Assista se você
- Procura um filme leve e com mensagens positivas
- Gostou do livro de Nick Hornby
- É fã de algum dos atores
Não assista se você
- Espera ver um filme sarcástico e com humor inteligente
- Quer ver um filme totalmente fiel ao livro
- Não gosta de filmes típicos de Ano Novo
Por Juliana Varella
Atualizado em 23 Mai 2014.