Alguns filmes fazem um barulho danado nos festivais internacionais antes de chegar aos cinemas e “Whiplash: Em Busca da Perfeição” é um desses casos. Exibido em Cannes e premiado em Sundance, o longa vem chamando a atenção não apenas pelo roteiro, sensível e tenso, mas por duas atuações excepcionais: as de Miles Teller e J. K. Simmons.
Teller, mais conhecido por seus trabalhos em filmes adolescentes, ganha sua primeira grande chance na pele de um estudante de música obcecado pelo sucesso e tem tudo para despontar como um nome quente em 2015. Já Simmons, famoso pelo papel do editor J.J. Jameson na trilogia “O Homem Aranha”, leva a postura rabugenta a outro nível e encarna um professor verdadeiramente tirânico, que já lhe rendeu indicações ao Globo de Ouro e ao SAG Awards.
O diretor, Damien Chazelle, é quase um estreante em Hollywood - escreveu roteiros para “O Último Exorcismo” e “Toque de Mestre” e dirigiu o pouco conhecido “Guy and Madeline on a Park Bench”, em 2009. Basta uma olhada rápida por estes nomes, porém, para compreender de onde vem o enredo pouco usual de seu novo longa: Chazelle tem fixação por jazz e, em quase todos os seus filmes (incluindo o próximo, “La La Land”), há um músico perturbado no papel principal.
No caso de “Whiplash”, a história acompanha Andrew (Teller), um baterista que tem como meta de vida ser “um dos grandes” – como Charlie Parker e Buddy Rich. Para isso, escolheu a melhor escola de música do país (uma escola fictícia) e ensaia sozinho, ao som de seus ídolos, todos os dias.
É durante um desses ensaios que Terence Fletcher (Simmons), o professor mais temido e mais respeitado da instituição, o aborda pela primeira vez. Ali, num breve encontro desconfortável de alguns segundos, já é possível pressentir como será a relação entre aqueles dois personagens. Amor e ódio, agressão e submissão, confronto e compreensão.
Andrew eventualmente entra para a banda de jazz desse professor e começa a ser treinado para uma competição. O clima competitivo parece ser parte do treinamento e, mais de uma vez, o maestro recruta outros bateristas para concorrerem com o novato pela vaga.
A determinação do protagonista tem seus exageros, mas seu sentimento ressoa em qualquer espectador que já tenha estudado música ou algum outro tipo de arte ou esporte. Andrew quer se superar, quer provar aos pais que sua escolha profissional é tão valiosa quanto as de seus irmãos e quer ser ouvido pelas próximas gerações. Mesmo que isso lhe custe bolhas, sangue, suor e solidão.
Já Fletcher funciona como uma versão caricata de um tipo de professor que muitos de nós já tivemos: aquele que exige demais porque acredita no potencial do aluno, mas que também cultiva certa vaidade com sua máscara de “difícil” e suas atitudes humilhantes.
Não é máscara, porém, o que veste esse músico em especial. Simmons empresta a Fletcher uma densidade maior do que se esperaria do personagem e acaba transformando-o num ser humano de carne, osso e emoções conflitantes. Assistir a ele, na tela, é um deleite quase masoquista.
Como diretor, Chazelle acerta o tom em todos os personagens e consegue construir um universo ao mesmo tempo realista e metafórico, com o qual grande parte da audiência conseguirá se identificar. Como roteirista, ele se repete um pouco em detalhes e pode cansar, mas sua sequência final, extremamente simbólica, compensa a paciência.
“Whiplash” não é um filme para todos os públicos, mas pode ter algo a dizer a cada um de nós. Para amantes de música, especialmente, é uma grande homenagem ao esforço e ao talento, mas também serve de reflexão sobre os valores que se perdem no caminho. Um filme para ficar de olho no Oscar 2015.
Por Juliana Varella
Atualizado em 5 Out 2015.