Neste mês, cerca de 190 países conhecerão a primeira produção original Netflix criada no Brasil: “3%”. A série, idealizada por Pedro Aguilera e dirigida por Cesar Charlone, é uma distopia futurista sobre desigualdade social e as injustiças da meritocracia.
A produção apresenta uma sociedade fisicamente dividida entre um mundo miserável (onde vivem 97% das pessoas) e um mundo idílico, chamado Maralto, onde apenas 3% das pessoas têm a permissão de viver. Essa minoria é escolhida por meio de um processo seletivo longo e emocionalmente desgastante, que acontece uma vez por ano e reúne todos os jovens de 20 anos de idade.
Quando a série tem início, um novo grupo de candidatos está prestes a começar a seleção e, entre eles, conhecemos Michele (Bianca Comparato), Fernando (Michel Gomes), Rafael (Rodolfo Valente) e Joana (Vaneza Oliveira). Também somos introduzidos ao impiedoso diretor do processo, Ezequiel (João Miguel), e à supervisora que não concorda com seus métodos, Aline (Viviane Porto).
Elenco de "3%" em coletiva em São Paulo: diversidade é uma das marcas da produção
Surpreende que o Brasil tenha demorado tanto para se arriscar no gênero. Como comentou a atriz Bianca Comparato durante entrevista coletiva, “o Brasil é uma grande distopia”, com favelas se acomodando lado a lado com prédios de luxo e moradores de rua batalhando esmolas entre carros importados. Os criadores, portanto, se inspiraram na realidade do país para desenhar cada lado dessa ficção, inclusive no figurino, mas o resultado, apoiado demais em estereótipos de “bem” e “mal”, “rico” e “pobre”, “geometria” e “caos”, corre o risco de soar superficial – parecido demais com tudo o que já se viu antes nos cinemas.
O fato é que a série tenta fugir dessa armadilha ao eleger um grupo de protagonistas diverso e com personalidades ambíguas – não faltam negros, mulheres, deficientes, personagens bons com passados negros ou maus com motivações nobres. Nesse quesito, “3%” acerta em cheio. O desafio, portanto, será dar substância a esses personagens para fugir de clichês, tentando encontrar novos caminhos em meio a um dos temas mais batidos da ficção. O primeiro passo, pelo menos, foi dado - e com ousadia.
A primeira temporada completa chega à Netflix nesta sexta-feira, dia 25 de novembro.
Por Juliana Varella
Atualizado em 21 Nov 2016.