Um novo Harry Potter acaba de chegar às livrarias. Por favor, deixe esta frase ressoar por um segundo antes de continuar...
É isso mesmo: chegou às lojas no último fim de semana a versão inglesa de “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada” (com o título original de “Harry Potter and the Cursed Child”), roteiro da peça de teatro que estreou recentemente em Londres, dando continuidade à história criada por J.K. Rowling. Mas acalme-se: antes de sair correndo para comprar seu exemplar, há algumas coisas que você, fã incondicional que está esperando sua carta de Hogwarts até hoje, precisa saber: este não é um romance literário; ele não é escrito por Rowling (mas sim por Jack Thorne), apesar de ser baseado numa história dela; e sim, este livro é altamente viciante e vai trazer de volta todas as suas memórias e algumas lágrimas involuntárias.
Para quem se acostumou ao estilo de escrita da autora, as primeiras páginas causam estranhamento: no lugar de um texto fluido e cheio de entrelinhas, temos apenas diálogos, breves descrições dos ambientes e alguns saltos temporais bruscos. Lembre-se, porém, que isto é uma peça e que, visualmente, esta é a melhor forma possível de contar a história.
Passado o choque inicial, vem o reconhecimento: Harry, Rony e Hermione estão de volta, assim como Gina, Draco e a professora McGonagall. E é como reencontrar velhos amigos – o tempo parece não ter passado e a intimidade com os personagens é exatamente a mesma, imediata e cheia de carinho. Eles estão diferentes, é claro: Harry trabalha no departamento de segurança do Ministério da Magia, Hermione se tornou Ministra da Magia e Rony gerencia a loja de Gemialidades Weasley.
O foco, entretanto, não está mais no trio e, sim, na nova geração: especialmente na dupla formada por Albus Severus Potter (vocês se lembram dele no final do último livro, certo?), filho do meio de Harry e Gina, e Scorpius Malfoy, filho único de Draco e Astoria. Os dois são melhores amigos – e, acredite, o mais adorável deles é Scorpius.
Na verdade, dizer que Albus e Scorpius são amigos é subestimar a relação entre os dois. É evidente que essa amizade é muito mais forte do que a que existia entre Harry e Rony e, para olhos livres de preconceitos, não é difícil imaginar que isso poderia evoluir para algo mais pessoal. Não que o livro explore qualquer tipo de relação amorosa: o foco, como em toda a série até aqui, é a aventura.
Tudo começa quando o jovem Potter entra em Hogwarts pela primeira vez, apavorado com a possibilidade de ser escolhido para a Sonserina. É claro que isso acontece, arruinando sua amizade de infância com a filha dos Granger-Weasley, Rose, e colocando-o no alvo das piadas mais maldosas da escola. Ou, pelo menos, dividindo os holofotes cruéis com Scorpius, sobre quem corre um boato de que seja filho do próprio Voldemort.
Alguns anos depois, a verdadeira ação tem início quando um vira-tempo (muito mais moderno que o de Hermione) é encontrado e usado, provocando todo o tipo de mudanças no passado e no presente. Entre idas e vindas, o Senhor das Trevas ameaça voltar e o destino de todo o mundo bruxo eventualmente cai, mais uma vez, sobre as mãos dos adolescentes.
Deixando de lado a aventura e a ação, há um tema central que torna “A Criança Amaldiçoada” único em relação aos livros anteriores: a relação pai-e-filho. Tanto Albus quanto Scorpius têm problemas de relacionamento com seus pais, mas é no conflito entre o primeiro e seu famoso genitor, Harry Potter, que está o coração do livro – e que faz dele, inegavelmente, uma sequência e um desfecho para a história do “menino que sobreviveu”.
Desfecho, sim, porque J.K. Rowling já anunciou publicamente que “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada” será a última história com o bruxo e que ela não pretende criar nenhuma outra aventura para seu personagem mais célebre. Não que o universo bruxo, em si, tenha chegado ao fim – em novembro, estreia nos cinemas “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, sobre um pesquisador de criaturas mágicas protegido de Dumbledore, e já está prevista uma sequência para 2018.
Não seria surpresa, contudo, se o pequeno Malfoy caísse no gosto dos fãs e, quem sabe, não viesse a ter sua própria série no futuro. Por enquanto, só nos resta agarrar nossos exemplares de “Harry Potter and the Cursed Child” ou esperar pelo lançamento da versão em português no final de outubro. E torcer para a peça de teatro chegar ao Brasil.
Por Juliana Varella
Atualizado em 31 Out 2016.