Em 1993, o autor britânico Terry Johnson escreveu a comédia teatral "Histeria", que sob direção de John Malkovich foi aclamada em diversos países da Europa, tornando-se um grande sucesso de público e crítica.
Depois de assistir e se encantar com a montagem em Paris, Jô Soares traduziu o texto e agora dirige a versão brasileira da comédia consagrada pelo mundo, que fica em cartaz no Teatro Tuca entre os dias 6 de maio e 31 de julho.
O Guia da Semana foi conferir a peça e, apesar de alguns pontos negativos, como a dicção de alguns personagens (difíceis de entender) e o tempo de duração (muito longo), agora lista os motivos pelos quais você deveria assistir. Confira:
HISTÓRIA EXTRAÍDA DE UM FATO REAL
Muitas pessoas ficam surpresas ou estranham o fato de que Freud e Dalí tenham vivido na mesma época. Mas é fato que em 1938 o pintor surrealista visitou o pai da psicanálise e, antes disso, ficou encantado e completamente tentado em conhecer o autor dos textos nos quais tanto se encontrou.
Quando Freud escreveu a Interpretação dos Sonhos, Dalí tornou-se um freudiano fanático que, inclusive, revelou que o livro foi uma das descobertas mais importantes de sua vida e despertou um verdadeiro vício pela autointerpretação não apenas de seus sonhos, mas de tudo o que acontecia em sua vida. Desse momento em diante, suas pinturas passaram a ser mais abertas, com influências tipicamente freudianas, com símbolos sexuais justapostos a paisagens oníricas.
Para quem não sabe, antes de se encontrarem, Dalí tentou insistentemente marcar um encontro com Freud, que já muito doente, vítima de um câncer incurável na mandíbula, nunca estava disponível. O pintor revelou, inclusive, que tinha diversas conversas imaginárias e ficava planejando tudo o que falaria quando se encontrasse com ele.
O tempo passou e Freud havia recentemente escapado da Europa nazista e estabelecera-se em Londres. Dalí então, conseguiu, através de um amigo, realizar o encontro épico e inusitado, momento do qual surgiu a matéria-prima para Histeria.
Assim, as cenas mostram situações reais, como a fascinação de Dalí pelas obras de Freud, a bicicleta com caramujos, o tipo peculiar de Dalí, assim como o desenho que faz do psicanalista e muito mais... Cenas ricas aos olhos de qualquer pessoa que ame arte, psicanálise, história e teatro.
PSICANÁLISE E SURREALISMO
A peça transpira psicanálise. A começar pelo palco, que faz referência ao consultório de Freud, passando por um de seus casos e algumas de suas teorias, que são questionadas por outros personagens, somos levados aos pensamentos de Freud - o que faz a junção de psicanálise com o surrealismo, nos colocando diante de situações fantásticas e oníricas, misturando o humor com fatos reais.
HUMOR
A produção traz humor do início ao fim do espetáculo. Para quem frequenta mais peças de drama e está mais habituado a ter contato com o estilo apenas em espetáculos de stand up comedy, "Histeria" é uma boa pedida.
Apesar do humor forçado em algumas cenas (o que explica-se pelo sentido surrealista da obra), é impossível sair do teatro sem dar algumas boas risadas.
ATUAÇÕES
Pedro Paulo Rangel, Cassio Scapin, Milton Levy e Erica Montanheiro estão verdadeiros gigantes no palco. Com atuações precisas e certeiras, o espetáculo ganha ainda mais força com seus respectivos personagens. Cássio Scapin veste-se de Dalí com extrema personalidade que é impossível imaginar outro ator para o papel. Erica Montanheiro também merece destaque, pois, despida de roupa e vestida de coragem dá uma aula de interpretação.
Serviço
Histeria
Data: de 6 de maio a 31 de julho
Horários: Sextas e Sábados, às 21h. Domingos, às 19h
Preços: Sextas - R$ 50, sábados - R$ 80 e domingos - R$ 70
Local: Teatro Tuca - Rua Monte Alegre, 1024 - Perdizes
Por Nathália Tourais
Atualizado em 17 Mai 2016.