Após anos de abandono, o casarão amarelo, que fica na esquina da rua da Consolação com Visconde de Ouro Preto, foi escolhido pelo Ateliê Compartilhado -- grupo formado a partir de diversos coletivos da cidade -- para ser um espaço cultural e sede do grupo.
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Atualmente, administrada pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), a Casa Amarela -- como o espaço foi batizado -- é resultado de um movimento que começou há três anos com o pessoal ligado à Cooperativa Paulista de Teatro. Aos poucos, foram chegando outros coletivos de dança, música, artes plásticas e outros grupos de teatro que não são ligados à Cooperativa. Durante os debates, uma de nossas referências eram as ocupações artísticas que já existem na periferia da cidade”, explica Dorberto Carvalho, um dos responsáveis e porta voz do movimento.
O foco principal dessas conversas era a dificuldade que esses grupos encontravam em achar um lugar para ensaiar ou servir de sede para seus movimentos artísticos. Então, eles decidiram fazer uma lista de prédios abandonados em São Paulo. “A gente levantou inúmeros prédios ociosos e nesse meio tempo entramos em contato com o Condephaat [Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico]. Eles ficaram muito interessados em passar esse espaço para os artistas mas nunca foi uma ação concreta”, conta Dorberto.
Foi quando o grupo resolveu agir. Dorberto explica que eles precisavam de um prédio que não só oferecesse condições de uso mas também fizesse parte de um circuito cultural. “Esse corredor cultural interessava pra gente porque a proposta era ser um projeto piloto experimental que sacudisse a cidade para que outros artistas ocupassem os espaços. Mas também nos interessou politicamente porque a Consolação é um corredor das manifestações politicas de São Paulo e porque hoje essa região sofre muita especulação imobiliária, vide a questão do Parque Augusta. É um discussão artística mas que é politizada ao mesmo tempo.”
Depois de conversas em Brasília e um pedido de cessão de espaço junto ao Ministério da Previdência Social sem sucesso, o Ateliê Compartilhado ocupou a casa em 20 de fevereiro de 2014 e está em negociação com o INSS de São Paulo. “Vou ser sincero, a nossa estratégia política não é ficar atrás dos caras pedindo cessão, está ligada a estabelecer um diálogo com a cidade. Ou seja, nenhuma porta é fechada e qualquer cidadão pode entrar no espaço. Vem gente de todas as classes sociais, credos, religiões e (opções) políticas.”
Eles contam com uma pequena ajuda de custo da Câmara Municipal para manutenção da casa, como comprar lâmpadas e fios, e também com a contribuição da galera da rua Visconde de Ouro Preto. “Temos recebido muito material de limpeza porque a casa estava em estado deplorável. Domingo retrasado, recebemos 300 pessoas e ficou um caos por causa do banheiro. Agora que a gente tá colocando os vasos sanitários e as pias”, diz Dorberto.
A ação do Ateliê Compartilhado é despretensiosa e nem eles sabem ao certo qual será o resultado da ocupação. “Não estamos privatizando o espaço público, é uma tentativa de construir uma relação horizontal de autogestão. Os coletivos entram e participam da casa como uma casa aberta, não necessariamente a pessoa tem uma salinha lá. Na verdade a gente nem sabe muito bem o que é isso, estamos aprendendo e fazendo”, conclui o porta-voz.
Fique ligado na agenda do Guia da Semana para saber a programação da Casa Amarela.
Por Juliana Andrade
Atualizado em 19 Mar 2014.