Andando pelo bairro do Cambuci, em São Paulo, um casarão estilo república chama atenção. Não só pelo entra e sai de pessoas mas também pelos grafites estampados em todas as paredes da casa. Esse lugar é um dos 200 pontos do coletivo Fora do Eixo.
Na maratona de mapear todos os coletivos da cidade, é claro que o Guia da Semana não podia deixar de fora o maior coletivo do Brasil, e talvez, da América Latina. Entramos em contato com a galera e fomos até lá pra trocar uma ideia, entender o tamanho e como funciona a coisa toda.
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Logo que entramos na casa, damos de cara com um clima relax, estilo republica mesmo. Uma galera espalhada pela casa com seus notebooks, alguns zanzando por ali e outros fazendo um rango na cozinha.
Fomos recebidos pela Letícia, responsável pela comunicação do Fora do Eixo, e pelo Felipe Altenfelder, editor e um dos fundadores do Mídia Ninja, braço do coletivo que ficou mais conhecido durante as manifestações de 2013.
Como nasceu o Fora do Eixo?
O Fora do Eixo se formou em 2005 quando o grupo percebeu que músicos e bandas não precisariam mais de grandes gravadoras para divulgar seu trabalho e a internet tinha espaço o suficiente para a comunicação entre produtores, que contavam com o apoio do Ministério da Cultura, na época tinha Gilberto Gil e logo em seguida Juca Ferreira como gestores.
“No meio desse caldeirão uma geração de produtores do país todo se viu diante da possibilidade de trocar informações cotidianamente, de uma forma muito mais rápida e mais barata do que colocar uma fita demo no correio, fazer um interurbano ou comprar uma passagem. Era uma dificuldade pra ser transformada em oportunidade.”, conta Felipe.
Os EUA e Europa já tinham um cenário underground se estruturando, mas aqui no Brasil a coisa ainda estava muito devagar explica Felipe “aqui a galera se viu diante de uma terra arrasada e diante essa terra arrasada, entenderam que os festivais independentes poderiam ser uma plataforma que desse respostas para os gargalos e desafios que estavam colocados naquele momento. Ninguém estava mais interessado naquela lógica de indústria onde poucos artistas estouram e ganham muita grana”.
O começo de tudo
Com o Abril Pro Rock como referência foram surgindo festivais pelo país inteiro até que em 2005 a galera se juntou pra fazer a Associação Brasileira de Festivais Independentes. “Essa associação tinha um estatuto que defendia empresas e produtores. Então cinco de vinte e duas pessoas do grupo se perceberam numa minoria diante das características incomum que eles tinham.”, conta Felipe.
Desses cinco, ninguém era aspirante a empresários do mercado musical “eram pessoas que estavam se organizando na sua cidade já com essa ideia de coletivo e não entendiam aquilo como algo que iam fazer pra tirar um troco pro caixa da produtora, mas sim como algo que dava um grande recado pra cena local de sua cidade dizendo que aquilo era possível”, explica Felipe.
A partir daí, além da associação, esse pequeno grupo foi criando uma rede sem um estatuto engessado mas que permitam pessoas que tenham desafios em comum estejam em contato e em busca de soluções mais rápidas. Em cima disso a gente saiu conectando cidades”, completa. Em 2005 eram cinco produtores e em 2010 virou uma rede de 200 coletivos.
Fora do Eixo em São Paulo
Movimentando mais de cinco mil shows por ano o Fora do Eixo veio para São Paulo em 2011 para participar Festival da Cultura Digital e foi a primeira vez que rolou um contato outras redes que “ajudaram a gente a ter uma clareza que aquele Fora do Eixo do começo tinha transcendido a ideia geográfica e virado mais conceitual. Era uma nova forma de se organizar, uma nova proposta pro cenário da produção cultural no Brasil.”
Com isso, estava mais do que na hora de estar em São Paulo “a gente tinha chegado em um estagio de visibilidade, possibilidade, sustentabilidade a partir dessa história toda que estar em uma cidade como São Paulo ajudaria a gente avançar várias etapas. E viemos!"
Com toda a estrutura armada na cidade, o coletivo de música abraça circuito cultural alternativo de São Paulo e com gente espalhada por todo país constrói um “movimento social das culturas”, se aproximando de outros coletivos (de mobilidade urbana, ambientais, de bicicleta) oferecendo sua vasta rede de comunicação para divulgar atos e marchas organizado por outros grupos.
O que é o Mídia Ninja?
Em 2013, no momento em que o país era dominado por protestos e a mídia tradicional, já estremecida, não sabia exatamente o que estava acontecendo, as pessoas passaram a buscar outras fontes de informações. Foi aí entrou o Mídia Ninja.
“A crise da credibilidade dos veículos tradicionais e a possibilidade foi fazendo com que ninguém se contentasse em ter a velha mídia como a única fonte de informação. Então, no meio disso tudo, a gente pensou ‘cara, assim como a gente enxergou os festivais lá atrás a gente também pode fazer uma nova proposta como veiculo”, explica Felipe.
Em março o Mídia Ninja se lançou com algumas ações como Amor Sim Russomano Não e Existe Amor em SP. “Foram todas narrativas que a gente criou como interferências que julgamos como necessária na sociedade naquele momento.”
Mas foi em junho que o coisa deslanchou. Durante o turbilhão das maiores manifestações do Brasil o Mídia Ninja era a antena de tudo o que estava rolando nas ruas do país.
Projetos cultuais
Além dos shows dominicais no próprio casarão, recebendo artistas como Criolo, Emicida, Gabi Amarantos e Davi Moraes, o coletivo também organizou o Encontro Latino-Americano de Midiativismono, no Rio e o congresso Fora do Eixo, em Brasilia.
Por enquanto a programação na sede em São Paulo está de férias, mas Felipe garante quem logo eles voltam com os shows no quintal do casarão.
Como faz pra entrar no Fora do Eixo?
Vez ou outra o coletivo lança “editais” e chamadas públicas para quem quer entrar pro Fora do Eixo ou colaborar de alguma forma. “A gente recebe vários e-mails e fala pra pessoa vir pra cá conhecer. É o primeiro passo”. Então se você quiser se juntar a galera é só ficar de olho no site e Facebook dos caras.
Por Juliana Andrade
Atualizado em 8 Abr 2014.