Entre stencils, colagens e lambe-lambes, o coletivo Ocupeacidade preenche as ruas de São Paulo com intervenções artísticas despretensiosas que, a partir de imagens e textos comuns do nosso cotidiano, nos fazem repensar em nós como parte da cidade e da sociedade.
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Na ativa desde 2006, o coletivo – que ainda nem era coletivo – começou com uma vontade do artista Sebastião Oliveira Neto (mais conhecido como Tião) e uns amigos de fazer parte de um movimento artístico que já estava acontecendo em São Paulo.
“Era uma época que já tinha muito coletivo fazendo intervenções na rua. Muita gente do grafite, do stencil, do stickers. Era tudo um pouco nessa onda de participar dos espaços públicos”, relembra Tião em uma entrevista para o Guia da Semana.
Começo de tudo
Segundo Tião, nem existia a intensão de ser um movimento artístico, a ação era mais para ocupar o espaço público. “Não começou como coletivo. Começa como uma ideia de produzir ações em espaços públicos da cidade com a proposta de intervir no cotidiano. Não necessariamente com uma ação que seja considerada artística, nada disso! Surge como uma ideia de olhar pro espaço público e fazer pequenas interferências visuais”, explica.
Com isso em mente, o grupo passou a se apropriar de textos, imagens e fotografia e começou a desenvolver um trabalho a partir de stencils, colagens e lambe-lambe. “Era essa ideia do faça você mesmo. Se você quer fazer música na rua você faz. Se você quer colar um cartaz na rua você cola. Se você quer fazer o que for você faz, não precisa ser necessariamente um artista”, diz Tião.
Mas o artista frisa que a ideia de ocupar a cidade não está somente ligada ao fato de sair pintando ou colando cartaz muro afora e sim de “estar nos espaços e olhar pra cidade como algo que você faz parte não só como consumidor ou um lugar de passagem”. Tião cita como exemplos exposições, discussões em espaço público ou intervenções em espaços culturais como o Sesc.
É na virada de 2007 pra 2008 que o Ocupeacidade realmente toma corpo. “Começamos a trabalhar de um jeito mais organizado e a fazer ações mais frequentes. Nisso, temos nosso primeiro ateliê aqui no Bom Retiro, o Cadopô [Casa do Politécnico]. Foi quando começamos a ser convidados para fazer oficinas e aí sim começar a ter um grupo mais fixo e virar um coletivo de verdade”, conta Tião.
Outras abordagens artísticas e sociais
“A gente começou com essa coisa do stencil e do lambe-lambe, mas ao longo dos anos foram surgindo várias coisas”, conta Luana Minari, uma das integrantes do coletivo. “Sempre pensamos em diversas possibilidades sem restrições, mas existe algumas frentes de trabalho que tem nos acompanhado”, completa.
A Kombi é um desses trabalhos e marcou a história do coletivo. Basicamente, a ideia era fazer uma Kombi de papelão e transitar com ela pelo centro da cidade. “A kombi trazia uma questão da mobilidade e acabou que a imagem dela foi sendo usada de uma forma que a gente nem imaginava. Foi discurso e circulou em outras discussões que nem era sobre o que tínhamos pensado a princípio.”, explica Luana.
Outro projeto importante na trajetória do Ocupeacidade é o Sonho Meu Imóveis, trabalho inspirado na especulação imobiliária da Barra Funda. Como uma imobiliária fictícia, o coletivo distribuía placas da Sonho Meu Imóveis por várias partes da cidade.
“Colocamos um número de telefone nas placas e começamos, a vender, alugar e trocar a Barra Funda inteira. As pessoas ligavam e deixavam recados na caixa postal”, diverte-se Luana. O resultado desse projeto foi uma exposição na Casa das Caldeiras.
Zerocentos
Um dos novos investimentos do coletivo é o projeto de uma editora de publicações independentes, cadernos de artes que são feitos a partir de materiais diversos e, às vezes, até com coisas que eles acham na rua. “Todas as ações vão refletir as formas de como a gente lida com a cidade. Quando fazemos essas publicações, estamos pensando na circulação da informação”, explica Luana.
Essas publicações experimentais são únicas, feitas uma a uma para serem distribuídas ou até vendidas em exposições. Eles já desenvolveram algumas edições e a próxima é o resultado de uma oficina/residência de três meses no Centro Cultural Oswald de Andrade.
Oficinas do Ocupeacidade
O trunfo do coletivo são as oficinas, pois são através delas que o grupo expande seus trabalhos e acabam conhecendo pessoas que muitas vezes passam a agregar o grupo. Desde o início foram dezenas, inclusive, essa última dO Centro Cultural Oswald de Andrade vai virar uma exposição ainda no primeiro semestre de 2014.
Mas não vai pensando que você tem que manjar de arte pra participar das ‘aulas’. O bom disso tudo é que qualquer pessoa pode participar. “A gente já fez oficinas pra pais e filhos e um trabalho aberto no Sesc Vila Mariana que tinha mais ou menossessenta crianças”, conta Tião.
Viu só? Então fique ligado aqui no Guia da Semana que vamos te avisar quando rolar a próxima ;)
Por Juliana Andrade
Atualizado em 12 Mar 2014.