A Voodoohop é uma festa que resgatou o centrão de São Paulo quando ainda nem se falava em ocupação urbana. Uma celebração despretensiosa que acabou virando um dos maiores coletivos da cidade reunindo música, arte e cultura.
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Tudo começou em 2009 quando o alemão Thomas Haferlach percebeu que faltava alguma coisa na cidade. “São Paulo estava em uma fase muito difícil. Você saía e as baladas eram muito caretas e se você queria algo legal tinha que pagar entrada”, conta Thomas numa conversa em um café da Praça Roosevelt.
Foi então que ele e uns amigos começaram a frequentar o Netão, bar numa portinha da Augusta. “Na real não tínhamos intensão de virar alguma coisa. Era somente um encontro de amigos num barzinho em que a gente colocava músicas. Só que quando começou a encher a pensamos ‘a gente tem que dar um nome pra isso’”, relembra Thomas.
A reunião entre amigos foi tomando uma proporção tão grande que no bar não cabia mais a galera e já com o projeto Voodoohop migraram a festança para outros lugares. “A gente começou a ocupar os puteiros da Augusta e fazer umas festas juntando outras vertentes de arte. Além dos DJs, colocamos projeções e performances, foi aí que a gente virou um coletivo. O Voodoohop.”, explica o alemão.
Ocupação do centro
Com a Voodoo bombando, Thomas conta que eles foram descendo mais e mais pro centro da cidade. “Fomos pra lugares que não eram tão conhecidos pelas pessoas da noite e ajudamos a criar esse movimento de reocupar o centro. A transição lógica disso foi que a gente começou a fazer eventos de graça ao ar livre. São Paulo aproveita muito pouco do espaço público e começamos a mostrar lugares no centro pras pessoas. Fomos um dos primeiros coletivos a fazer festa no Minhocão e na praça São José Gaspar.”
Claro que a as autoridades começaram a notar a presença deles e da galera nas ruas do centro e a partir disso rolou um convite surpresa. “A Secretaria da Cultura começou a perceber que estávamos fazendo coisas no centro e convidou a gente pra fazer eventos maiores com a ajuda da prefeitura [eles já fizeram parte da Virada Cultural]. O resultado disso tudo foi fazer parte da organização do SPnaRua, que foi quase uma mini Virada Cultural, com 16 pistas no centro antigo. Foi um sonho fazer”, diz Thomas, orgulhoso de fazer parte disso.
SP na Rua
O festival aconteceu dia 8 de fevereiro e foi sucesso total. Cerca de 10 mil pessoas dominaram as ruas do centro da cidade e se dividiram entre as 16 pistas comandas por diversos coletivos de São Paulo. A Voodoohop foi quem fez essa ponte e deixou tudo redondinho para que o festival acontecesse.
“A repercussão foi muito boa. A Secretaria [da Cultura] ficou muito feliz e vão rolar várias outras coisas. No mês da Cultura Independente [data a ser definida] com certeza vai ter alguma coisa parecida com o SP na Rua e de alguma forma isso também vai aparecer na Virada Cultural, não o SP na Rua, mas alguma coisa do tipo”, revela Thomas.
Ele também defende os coletivos e acredita que todos tem que valorizar o que é criado na cidade. “Muita gente percebeu que São Paulo tem um puta movimento desses coletivos e isso é uma coisa que a gente tem que sentir orgulho. Não precisa chamar o Funkadelic [banda americana dos anos 70 que tocou na Virada Cultural], tem que mostrar o que São Paulo desenvolveu porque não tá copiando nenhuma outra cidade.”
E se você tá achando que não existe razão para valorizar o que está rolando na cidade, pode ter certeza que está muito enganado. “Quando eu andei pelo festival [SP Na Rua] eu pensei ‘meu, não existe nada parecido no mundo’ é tão underground, tão cultura alternativa e ao mesmo tempo atraindo tanta gente. Não tinha nenhuma pista com uma pesquisa sonora que não era atual e única. Eu não conheço outra cidade que tem um festival de graça tão legal.”, diz Thomas, mais que empolgado.
Projetos musicais e a estética do coletivo
Claro uma festa sem música boa não funciona e na Voodoohop isso é o que não falta. “Além de produtores de festa a gente é um coletivo que tá desenvolvendo o próprio som. Sou alemão e tem muitos brasileiros envolvidos no coletivo, então a gente cria uma estética musical que mistura esse techno lento de Berlim com elementos brasileiros como batuque e psicodelia da troplicália. Essa mistura não foi feita ainda, é uma coisa bem única.”, conta Thomas que também revela que eles estão lançando um EP e pensam em criar o próprio selo.
Definir a estética ou o conceito do coletivo é difícil até para o próprio Thomas, mas ele tenta explicar dizendo que eles tentam “fazer uma coisa meio retrô usando elementos novos como projeção e sensores. É muito difícil definir mas é meio que esse o ponto de foco, sabe? Essa junção de descobrir a as coisas do Brasil passado com uma vertente moderna e com tecnologia”.
Como que faz para ser um colaborador do coletivo?
Thomas faz questão de falar que na Voodoohop não tem número fechado de pessoas. “A gente não tenta definir a exatamente quem faz parte porque todo mundo pode participar. Nós abrimos uma chamada no site e quem quiser colaborar em um evento com uma ideia que combina pode mandar pra gente. Daí decidimos se tem a ver ou não com a nossa estética e se também não for muito caro”
Se você ainda não foi em alguma das festas organizadas pela Voodoohop, não sabe o que está perdendo!
Por Juliana Andrade
Atualizado em 20 Fev 2014.