No ano de 2002, Ralph Appelbaum – design de museus norte-americano – idealizou um estabelecimento dedicado à conservação e estudo da língua portuguesa. Pouco tempo depois, uma equipe de mais de trinta profissionais, divididos entre sociólogos, museólogos e especialistas na língua, junto aos arquitetos Paulo e Pedro Mendes da Rocha – pai e filho – deram início ao projeto do design tendo como aliada a Lei de Incentivo à Cultura.
O local escolhido foi São Paulo, – cidade onde existem mais falantes da língua portuguesa - no antigo edifício da Estação da Luz, que foi, no passado, o ponto de encontro entre o português brasileiro com outros idiomas.
Quatro anos depois, em 2006, as obras foram concluídas e, no dia 20 de março do mesmo ano, tendo a palavra como protagonista, o Museu da Língua Portuguesa foi inaugurado. Porém, chamar o local de museu é apenas por convenção, pois, diferente das demais instituições museológicas do país, seus três andares disponibilizam espaços multimídias, interativos e com instalações surpreendentes.
A aventura começa logo na entrada, onde o visitante depara-se com a “Árvore da Língua”, uma enorme escultura - criada pelo designer Rafic Farah – que possui em sua base palavras arcaicas que deram origem à Língua. Em seguida, um painel com diversos tipos de erros.
No mesmo andar, são feitas as “Exposições Temporárias”, geralmente temáticas - sobre escritores - onde já foram homenageados Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Gilberto Freyre, Machado de Assis e muitos outros.
Já no segundo andar, encontra-se a “Grande Galeria”. Um espaço com um telão de 106 metros de comprimento – considerada a maior tela de projeção do mundo - que lembra uma estação de trem. Nele são projetados onze filmes, simultaneamente, tratando de diversos temas que envolvem a cultura brasileira, dirigidos por Marcello Dantas, Victor Lopes, Carlos Nader e Eduardo Menezes.
Na outra parede, um quadro traz a “Linha do Tempo” da nossa língua – resultado de pesquisa do professor Ataliba de Castilho - passando pelo etrusco, o latim clássico e vulgar, as línguas românicas antigas e as três línguas que compõe a língua portuguesa contemporânea: o português lusitano, as línguas indígenas e as africanas.
No centro, oito totens fazem parte das "Palavras Cruzadas" – dois deles são dedicados às línguas africanas, dois às línguas indígenas, um para espanhol, um para inglês e francês, um para línguas dos imigrantes e o último para o português no mundo - multimídia interativa que representa as línguas que formaram ou influenciaram o português brasileiro.
Mais adiante encontra-se o “Beco das Palavras”, um dos espaços mais lúdicos da exposição permanente, criado por Marcelo Tas com o suporte do etimologista Mário Viaro. Lá, os visitantes interagem com imagens que contém fragmentos de palavras, incluindo sufixos, prefixos e radicais, que formam palavras completas.
Por fim, há o “Mapa dos Falares”, um grande mapa interativo. Nele, o visitante clica em um estado do Brasil e ouve os diferentes falares daquela região, com os sotaques, gírias e expressões.
No terceiro e último andar, em um auditório, é exibido um curta-metragem sobre a Língua Portuguesa, e, depois, os visitantes são surpreendidos: as luzes se apagam e em um lindo espetáculo de luz e som, são declamadas algumas das mais famosas e intrigantes poesias da Língua Portuguesa, com direito a Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, João Cabral, Guimarães Rosa, Mário e Oswald de Andrade.
Ainda no último andar, um planetário - “Praça da Língua” - mostra a riqueza de nosso idioma por meio de uma antologia da literatura criada em Língua Portuguesa, incluindo também letras de MPB e projeções de imagens e palavras no teto e no chão.
No fim da exposição, para finalizar o percurso do museu - que na realidade parece uma viagem ao nosso passado – um grande corredor é tomado por recortes de jornal que tratam sobre Guimarães Rosa, escritor que era apaixonado por línguas.
Por Nathália Tourais
Atualizado em 3 Dez 2014.