Guia da Semana

Já não é novidade que alguns DJ´s e produtores brasileiros fazem sucesso no exterior e que o interesse do mercado estrangeiro nos talentos daqui se torna maior a cada dia que passa. Com isso, muitos desses profissionais se mandam para a Europa de "mala e cuia" e ficam meses, às vezes anos, longe da família e amigos, em busca de um "lugar ao sol" no mercado internacional, como é o caso deste que vos escreve.

Há também os clubbers (sim, ainda prefiro usar essa expressão à hedionda "baladeiros") brasileiros que, sabendo ou apenas imaginando as diferenças que existem, migram para a Europa buscando inovação, assim como os DJ´s, porém do outro lado da cabine.

Com certeza há diferenças no meio da música eletrônica entre o Brasil e a Europa, até porque lá as coisas existem há muito mais tempo....o que se torna meio óbvio quando se nota que até em borracharias ou supermercados é comum ouvir dance music.

Outra coisa bem característica é a quantidade de clubs por metro quadrado: é impressionante como em qualquer vilarejo (sim, vilarejo, não se pode nem chamar de cidade), existe um club para 1000 pessoas, e que toca musica eletrônica, muitas vezes comercial (mas não deixa de ser música eletrônica), especialmente no leste europeu. Conseqüentemente, o número de DJ´s e promoters são assustadoramente altos. O espaço para se trabalhar e se divertir com techno, house, trance, drum n´ bass, e afins é praticamente infinito.

Para os freqüentadores da noite, até em cidades menores, existem fóruns e mais fóruns com informações detalhadas de cada uma delas, de cada club de cada país, além da divulgação maciça por parte das casas. Quem quer achar onde se jogar não encontra nenhum tipo de dificuldade, e conversando um pouco com o povo local já dá pra saber quais são as festas mais concorridas.

Quem já não saiu de uma rave ou de um club em São Paulo e não encontrou seu carro cheio de flyers pendurados no limpador de pára-brisa, antena, teto, vidro da porta e até no escapamento (acredite, algum divulgador mal humorado já fez isso comigo)? Alguma vez alguém vê o que tem neles antes de jogar no chão pra poder voltar pra casa? Em Londres, por exemplo, existe uma empresa especializada em distribuição de flyers diversos, que os agrupa em um saco plástico e assim eles são distribuídos, garanto que muito mais gente recebe os flyers e com certeza essa papelada não vai ser desperdiçada, molhada, sujando ruas e causando transtornos diversos.

Outra coisa que eu tenho percebido são os horários das baladas. Em muitos dos clubs do leste, como República Tcheca, Eslováquia, Hungria, elas começam por volta das 21 horas, e os headliners tocam meia noite, uma da manhã. E mesmo assim ainda duram muitas vezes até as sete da manhã ou até as autoridades encerrarem o evento. No Brasil, geralmente as pessoas chegam dos esquentas aos clubs por volta das duas, três da manhã, já alcoolizadas. Quando muito, a maioria dos clubs consegue chegar até as seis da mtina. Isso também acontece em Portugal, na Espanha, em cidades como Barcelona, onde os clubs não podem passar das 4 horas da manhã.

A diferença entre as culturas noturnas do Brasil e da Europa é muito grande. E é muito positivo quando brasileiros levam um pouco da cultura européia para o nosso país (ainda defasada em relação à noite "gringa" no meio da música eletrônica) e também quando trazemos a cultura do Brasil para a Europa, nosso espírito "festivo"...apesar da dimensão das coisas por lá, nós temos muito a oferecer. Seja no Brasil ou no exterior, o que importa é saber adquirir cultura e informação e se divertir fazendo isso.

Quem é o colunista: Rodolfo Wehbba, 27 anos, paulistano, descendente de libaneses e atualmente habitante da República Tcheca.

O que faz: DJ, produtor musical, engenheiro de áudio e ex-dentista especializado em periodontia.

Pecado gastronômico: bolacha de água e sal com guaraná.

Melhor lugar do Brasil: Club Mess, em Londrina (PR).

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.