Guia da Semana

Durante os anos 80, 90 e até o inicio de 2000, existia uma cultura de noite em que as pessoas eram fiéis aos clubes e boates. De um tempo pra cá, essa cena mudou e deu pra notar que cada vez mais a galera está fiel a uma determinada festa ou um promoter do que um clube. Você já parou pra pensar o porquê disso estar acontecendo?

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Paramos para analisar esse comportamento aqui na redação do Guia da Semana e um dos motivos que levantamos foi a grana. Será que as pessoas deixaram de ir para os clubes e optaram por festas soltas por que está muito caro sair de casa?

Facundo Guerra, sócio do Yacht, Cine Joia e Riviera, diz que não. “As festas estão tão ou mais caras quanto as festas de clube. Nessas festas você paga R$ 25 de entrada e mais o que consumir lá dentro, o que não é muito barato. Os clubes nem cobram mais a entrada, cobram consumação mínima, então compensa muito mais ir em um clube pelo custo benefício do que ir em uma festa”, afirma Facundo.


Club Yacht

Rodrigo Bento, ex-host de diversas casas noturnas de São Paulo e hoje organizador da festa Pilantragi, acredita que além dos preços muito mais altos, os clubes são cheios de restrições. “Na rua, as pessoas se sentem mais à vontade. Estão livres para ir e vir, para usar o que quiserem. Quando eu era host, quase tudo era novidade, as festas, a montação, os clubs. Naquela época, as pessoas até pagavam pela novidade, mas hoje os clubes não se renovam mais.”, diz.

O designer Vinicius Grego adora sair, mas confessa que parou um pouco de ir em clubes. “Toda a função de ir, nome na lista, cadastro no sistema e fila enormes me cansam. Eu sei que tem os custos de infraestrutura, staff e fornecedores, mas os preços em clubes são altíssimos”, conclui Vinicius.

Mas será que só o preço e a função que afetaram a transição ou o que acontece é que as pessoas mudaram a maneira de viver a cultura e agora saem em busca de novas experiências? “As festas que rolam por ai são dinâmicas, sempre abrem espaço para intervenções de arte, gastronomia, novos talentos de diversas áreas. Vejo isso claramente na Pilantragi. As pessoas querem vivenciar as festas, mostrar seu trabalho, quem são, no que acreditam. Vejo que muitos clubes não se preocupam com isso, em dar espaço para a vivência”, explica Rodrigo.


Pilantragi edição especial durante o dia

Para Facundo, "(os clubes) sempre funcionaram como um espaço de convívio social. Na década de 90, a música eletrônica tinha um viés de cultura, não era só um gênero, ela vendia uma estética de existência. Então as pessoas que iam pro Hell’s ou Rose Bombom não eram só apreciadores de música eletrônica, elas viviam a música eletrônica com outras pessoas que vestiam o mesmo tipo de roupa, ouviam o mesmo tipo de música e tomavam o mesmo tipo de drink. As pessoas saíam para ver gente que dividia aquele meio de vida, aquela estética de existência, então o clube era vetor de socialização.”

O empresário também diz que atualmente as redes sociais é que são vetores de socialização. “As pessoas vão onde os amigos, que não necessariamente compartilham a mesma estética de existência, dizem que vão. Hoje elas vão porque a gata(o) e os amigos confirmaram a presença no evento ou vão até mesmo pelos promoters”, observa Facundo.

Por outro lado, Vinicius explica que "essas festas fora dos circuitos de grandes clubes são mais descompromissadas e os serviços não deixam a desejar. Na Selvagem [festa paulistana] você compra quantas fichas quiser, não tem a necessidade de nome na lista e nem de cadastro. Na Green Sunset você também compra o ingresso e as fichas antecipados”.


Festa Selvagem

Rodrigo acredita que as pessoas não querem ser apenas coadjuvantes. “Elas também querem participar da coisa toda e ver que se o que elas investem vale a pena. O produtor e o promoter fazem questão de fazer tudo da melhor maneira para que todos tenham uma experiência única”, defende o organizador da Pilantragi.

“Eu prefiro festa solta pela inovação que ela traz. O clube, além de fechado, é mais do mesmo. Fora que as festas soltas rolam muito durante o dia, o que traz uma qualidade de vida melhor. Vamos pra balada de dia, saímos ainda com tempo de jantar e dormir”, diz Mari Di Pilla, que é apaixonada por música e sempre está pelos lugares mais legais da cidade. “Ainda acho que as festas ao ar livre e durante o dia deviam aumentar. Eu quero me divertir, ver o povo, dançar e beber, só isso!”, conclui Vinicius.

Por Juliana Andrade

Atualizado em 21 Fev 2014.