Ilustração: www.yegustrepo.com |
Você pode adiar, valorizar, fingir que não é com você, meditar, levar uma comadre, mas é simplesmente impossível passar uma noite inteira sem fazer uma visita ao toalete da balada. E é aí que você entra num submundo caótico aonde o cheiro de pinho confunde a sua cabeça.
Primeiro vem a fila, uma espera sofrível onde você fica imaginando o que cada uma das pessoas posicionadas logo a sua frente vai fazer. Um corredor de torturas aonde cada rostinho sorridente vindo no sentido contrário representa uma alfinetada vudu na sua bexiga.
Chega a sua vez. No mundo ideal devemos buscar uma posição que esteja eqüidistante (jurava que nunca mais usaria esta palavra) de outros "homens trabalhando". No mundo real você desvia de uma grande poça no ladrilho, repara como sua barriga está grande no espelho e se posiciona entre dois sujeitos, ávidos por um bate papo.
- Nossa, como isso é bom velho!
- Te conheço?
Como você provavelmente não desfruta de privilégio parlamentar e está mais inchado do que o pé do Luiz Caldas em fim de turnê, o jeito é se concentrar e fazer o trabalho sujo. Sim, concentração é fundamental.
Você está prestes a sentir aquele alívio do Éden quando, não mais do que de repente, um tapinha nas costas te desperta do transe:
- Olha quem tá aqui!
Pronto. A formação da pedra no rim é tão certa quanto o pagamento dos dez por cento no fim da noite.
O jeito é relaxar e deixar a natureza agir. Sinta o cheiro das rodelas de limão e a refrescância dos cubos de gelo logo a sua frente. Quem não gosta de mirar neles com precisão fazendo-os derreter, formando aquela espessa fumaça no ar, que condensa no teto e provoca súbitos chuviscos, perceptíveis apenas pelo senhor que vende cigarros, chicletes e terras no Mato Grosso lá dentro.
Se você tirar a sorte grande e conseguir alguns minutos a sós numa das cabines, não comemore antes do tempo, pode atrair coisas ruins, e como. O botão da descarga sofre tanta rejeição quanto as aulas de handebol, que se pronuncia "Ândebol", sofriam na educação física. Isso quando você não desconfia que um leão marinho esteja na cabine ao lado, tanto pelos sons, quanto pelo aroma.
Hora de lavar as mãos, como a mamãe ensinou. Pensou que ia ser fácil? A tarefa exige complexas manobras e desvios buscando um lugar entre homens arrumando o cabelo, fazendo caretas, forçando o peito e o bíceps, ou escolhendo o melhor ângulo de suas sobrancelhas frente a um fotógrafo imaginário (acho que é o cheiro de pinho). Homem é pior do que mulher. Se a Endemol põe uma câmera escondida lá, nasce um novo BBB, com a vantagem de permitir aos participantes novas possibilidades dentro do confessionário.
Para completar, a pia está sempre entupida, o sabão líquido acabou e papel, bem, quem precisa de papel quando se possui camiseta? Ponto pra quem vai de dry-fit. Será?
Você está indo bem. Não é hora de abrir a boca e por tudo a perder. Como dito anteriormente, desconhecidos tendem a desenvolver um senso fraternal por você, acarretando mais uma vez em delongas desnecessárias.
Seja breve. Só há uma maneira de sair ileso do banheiro e ela exclui contatos verbais, visuais e táteis. Se você continuar a ser atormentado pelas chicotadas de toalha úmida do passado, feche essa braguilha ou mude de clube.
Leia as colunas anteriores de Adriano:
? Não tenho mais roupa para sair: Você pode estar na lista do Samuel, da Glorinha ou do Curi, mas, infelizmente, camurça não combina com fio tinto, muito menos com lã fria.
? A fila anda: Sábios conselhos para se livrar das filas grandes e chatas que se formam nas portas das baladas.
? Só vim pra dançar: Uma das desculpas mais utilizadas pelas mocinhas festeiras.
? Não rola aquele chorinho?: Dicas para arrumar aquela dose a mais na balada.
Ilustração: www.yegustrepo.com.
Quem é o colunista: Adriano Abdalla. Libanês, paulistano e de sobrancelha junta.
O que faz: é redator publicitário e campeão pan-americano sub-17 de corre-cotia.
Pecado gastronômico: o maior pecado gastronômico é cometido por aqueles que comem esfiha com catchup. Francamente.
Melhor lugar do Brasil: Rua 25 de Março em época de Natal.
Fale com ele: [email protected]
Quer um chorinho? Então acesse seu blog.
Atualizado em 1 Dez 2011.