“A Vida Secreta de Walter Mitty” tem Ben Stiller por todos os lados - no papel principal, na produção e até na direção – mas os fãs podem não reconhecê-lo. Famoso pelas comédias (inclusive nos poucos longas que dirigiu, como Zoolander), Stiller se propõe o desafio de narrar pela primeira vez uma história dramática. E se sai muito bem.
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Walter Mitty não é totalmente seu: o personagem nasceu no final dos anos 30, na imaginação do escritor James Thurber, e cresceu para um longa-metragem em 1947 (“O Homem de 8 Vidas”, de Norman Z. McLeod), até chegar às mãos do roteirista Steve Conrad (“À Procura da Felicidade”) e ganhar a forma que vemos hoje nos cinemas. Uma forma, vale dizer, totalmente nova e relevante.
O sonhador de Thurber criava mundos alternativos para escapar do controle da própria esposa. Já o de McLeod se envolve com uma história real que mais parece ficção: o carregamento de joias proibidas sob os narizes dos nazistas durante a II Guerra Mundial .
Stiller e Conrad puxam seu Mitty para o presente, apresentando um personagem arrastado pela inércia depois de perder o pai. Ele abandonou o sonho de ser um viajante para trabalhar numa rede de lanchonetes, depois no departamento de negativos de uma revista de fotografia, onde permaneceu por 16 anos. Enquanto vive sua rotina tediosa, deixa a imaginação divagar para as situações mais heroicas, tomando atitudes decisivas apenas nesse mundo de sonhos.
A revista em questão é a Life – um nome gigante que já passou por todas as transformações possíveis no mercado editorial americano: de semanal a suplemento de jornais, a calhamaço mensal especializado em fotojornalismo, até cair na “maldição” da internet. Hoje, ela representa apenas um canal no site da revista Time.
Mostrá-la no filme aproxima o drama do cotidiano dos espectadores, que sentem na pele não apenas a decadência da mídia impressa, mas também as incessantes “reformulações” de empresas que não hesitam em demitir seus funcionários mais experientes em nome do “novo”.
O que força Mitty (Stiller) a sair do marasmo é a notícia de que sua revista será – como na vida real – extinta na forma impressa. Encarregado, portanto, de tratar a última foto de capa, ele recebe uma encomenda do maior fotógrafo do país (Sean Penn) com “a foto”. O problema é que o negativo não está lá...
Se Mitty enfrenta pilotos bêbados, tubarões ou o frio do Himalaia para recuperar a foto, é no escritório que seus maiores desafios estão. O homem comum precisa superar seu trauma e tomar as rédeas de sua vida, criando coragem para convidar uma mulher para sair ou para dizer certas verdades ao seu novo chefe.
Entre tantas aventuras, quem não se reconhecerá na simplicidade desse personagem tímido por fora, celebridade por dentro? Quem não se lembrará de uma única situação em que pensou nas frases mais impactantes, mas preferiu ficar calado? Walter Mitty tem um pouco de todos nós, e seu mundo – em transformação, em crise – é precisamente o nosso. É o mundo de Ben Stiller.
Assista se você:
- Gosta de atores cômicos em papéis dramáticos
- Gosta de filmes que misturam fantasia e realidade
Não assista se você:
- Procura um filme engraçado como os outros de Ben Stiller
- Não gosta de filmes pouco realistas
Por Juliana Varella
Atualizado em 19 Dez 2013.