Guia da Semana



Como qualquer cinéfilo, tenho imenso interesse pelo que chamo de "obras de formação do cinema". São filmes que vão de 1895, quando nasceu o cinema, até meados de 1927, quando as películas passaram a ser sonorizadas.

Aos ouvidos de hoje, em pleno século 21, a expressão "cinema mudo" pode soar como algo monótono e sem graça. Porém, basta um olhar mais atento para perceber a riqueza, inventividade e qualidade desses filmes. Claro que estamos falando de um cinema sem gatinhas e tecnologia, mas isso não interfere na percepção da grandeza dessas obras, ou importância para o desenvolvimento de arte e linguagem.

Até pouco tempo atrás, conhecer essas obras só era possível através de pesquisas em cinematecas ou mostras em cineclubes, o que demandava tempo e sorte. Era relativamente complicado conhecer esses filmes. Hoje, felizmente, o alcance a essas obras é geral, sem precisar sair de casa. Tudo graças ao Youtube.

Assim, se o caro leitor estiver interessado em conhecer mais sobre os caminhos e os primeiros passos que nos trouxeram até aqui (em matéria de cinema), vai aí uma lista de filmes importantes que podem ser facilmente encontrados no site.

Chegada de um Comboio à Estação da Ciotat ( L"Arrivée d"un train en gare de la Ciotat), 1895 - Irmãos Lumière: é um dos filmes curtos que compunham a coletânea de pequenas amostras de imagens captadas pelos irmãos Lumière, inventores do cinematógrafo, exibidas a um público pagante no dia 28 de dezembro de 1895, no Grand Café, em Paris. Nascia ali, o cinema.

Viagem à Lua ( Le Voyage dans la lune), 1902 - George Méliès: considerado o pai da fantasia no cinema. Antes dele, os filmes se ocupavam da captação de imagens da realidade. Méliès deu asas à fantasia, além de inovar em técnicas de filmagem e trucagem. Este é seu filme mais conhecido. Quem nunca viu a imagem de uma lua com rosto recebendo uma bala de canhão no olho?

O Nascimento de uma Nação ( The Birth of Nation), 1915 - D. W. Griffith: Para alguns, Griffith é o pai da narrativa estruturada no cinema. Este monumental filme de 165 minutos reúne uma dezena de inovações técnicas e cênicas. É o primeiro filme épico da história, com cenas de batalhas que impressionam até hoje.

O Gabinete do Dr. Caligari ( Das Kabinett des Doktor Caligari), 1920 - Robert Wiene: obra-prima e um dos maiores símbolos do expressionismo alemão, aborda a ambivalência da psique humana, utilizando-se para isso de cenários e ângulos distorcidos, que representam não apenas a loucura dos personagens, como expressam o sentimento de desconforto do povo alemão, recém-derrotado na Primeira Guerra Mundial.

Nosferatu ( Nosferatu, eine Symphonie des Grauens), 1922 - Friederich W. Murnau: marco do expressionismo surgido na Alemanha, é uma obra onde o jogo de sombras e a própria deformidade do protagonista quase que prenuncia o espírito do povo alemão, derrotado na Primeira Guerra Mundial e em vias de consolidar na história da humanidade a essência do protagonista: a banalização do mal.

O Encouraçado Potenkim ( Bronenosets Potyomkin), 1925 - Sergei Eiseinstein: a rebelião de marinheiros contra a tirania de seus comandantes é um marco do cinema. Apresenta os princípios da montagem dialética que, através da alternância de imagens não-relacionadas, introduz um conceito ao público. Como um close de um pedaço de carne podre cheia de vermes simbolizando o caráter dos oficiais do navio.

Metrópolis ( Metrópolis), 1928 - Fritz Lang: com uma estética inovadora, seus cenários grandiosos impressionam até hoje. Influenciou muitos filmes do gênero Sci-Fi, entre eles, um dos mais cultuados do cinema: Blade Runner - O Caçador de Andróides, de Ridley Scott.

The Jazz Singer ( O Cantor de Jazz), 1927 - Alan Crosland: primeiro filme com som da história. A curiosidade é que a tecnologia para dar som aos filmes já existia desde 1923, mas, por medo de fracassar, ninguém se arriscava a lançar um. O Cantor de Jazz só aconteceu porque a Warner estava à beira da falência e, num gesto de desespero, resolveu lançar o primeiro filme sonoro.

Leia a coluna anterior de Rogério de Moraes:

Para lembrar

Quem é o colunista: gordo, ranzinza e de óculos.

O que faz: blogueiro, escritor e metido a crítico de cinema.

Pecado gastronômico: massas.

Melhor lugar do Brasil: qualquer lugar onde estejam meus livros, meus filmes, minhas músicas, meus amigos e minha namorada.

Fale com ele: [email protected] ou acesse seu blog

Atualizado em 10 Abr 2012.