Reza o mito que amor e ódio caminham lado a lado desde os primórdios da humanidade. O cinema, aproveitando-se disso, sempre apostou em comédias românticas onde o casal convive às turras até descobrirem-se perdidamente apaixonados.
O filme Aconteceu Naquela Noite (1934), por exemplo, abocanhou os principais Oscars daquele ano ao mostrar Clark Gable e Claudette Colbert se atracando o tempo todo, o que lhe conferiu o título de "primeira comédia romântica do cinema". E assim, mais de 70 anos depois, os filmes têm inovado e/ou reciclado seus clichês para suas histórias de ódio que se transformam em amor, criando situações inusitadas e divertindo o público.
Em A Proposta, a diretora (e atriz) Anne Fletcher (Vestida para Casar e Ela Dança, Eu Danço) conta a história de Margaret Tate (Sandra Bullock), uma editora workaholic que causa pavor e total repulsa em seus funcionários. Quem mais sofre é seu assistente Andrew (Ryan Reynolds), que almeja tornar-se um profissional respeitado no mundo literário. Por ser canadense e não estar com a documentação regularizada, Margaret recebe um ultimato para resolver a situação; caso contrário, será mandada de volta para o Canadá.
Desesperada, ela vê em Andrew a chance de ficar nos EUA, forjando um casamento e, assim, podendo manter o cargo dos dois na empresa. Mas tudo se complica quando a Imigração exige que ela conheça a família dele, que mora no Alaska.
Em ascensão no cinema norte-americano, Ryan Reynolds (X-Men Origem: Wolverine) ganhou status de símbolo sexual e tornou-se um ator muito procurado pelos diretores hollywoodianos. Seu próximo papel de destaque será vestindo a roupa do personagem de HQ Lanterna Verde, no título homônimo que tem estreia prevista para 2011. Já Sandra Bullock, depois de altos e baixos na carreira, parece ter descoberto o seu forte para comédias, com Miss Simpatia (2000), que ganhou uma sequência em 2005, e Amor à Segunda Vista (2002), em que contracena com Hugh Grant.
A química entre o casal de atores funciona, mostrando uma Bullock engraçada e arrogante (claro que sem a genialidade de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada) e o resultado dá certo. E Reynolds mistura carisma e sensualidade, duelando de frente com a "bruxa" Margaret Tate, com empatia e um timing de humor no ponto certo.
A história ganha força com a família de Andrew durante a estadia de Margaret e os preparativos do falso casamento, especialmente pela avó Annie (a ótima Betty White). Os pais de Andrew (interpretados por Craig T. Nelson e Mary Steenburgen) pouco têm a fazer. Resta, apenas, serem parte de um conflito familiar que aproxima os noivos em guerra.
Com certas piadas de gosto duvidoso (como o personagem Ramone, interpretado por Oscar Nuñez), A Proposta ainda conta com um antigo amor do rapaz, Gertrude (papel da bela Malin Akerman, que infernizou Ben Stiller em Antes Só do que Mal Casado).
A simplicidade da família, no início, incomoda a pomposa Margaret, mas logo ela se rende em cenas repletas de confusões, especialmente envolvendo a espevitada vovó Annie.
Previsível e simplista, vale pela interpretação do casal central, que alterna momentos dramáticos e engraçados em um filme sem grandes pretensões. Compre sua pipoca e descubra que o amor pode estar, justamente, naquela pessoa que você acredita que odeia. Afinal, o cinema tem mostrado que amor e ódio podem, sim, caminhar de mãos dadas.
Quem é o colunista: Um jornalista aficcionado por cinema de A a Z.
O que faz: Jornalista, tradutor e fotógrafo de uma editora de quatro publicações segmentadas.
Pecado gastronômico: Lasanha.
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Atualizado em 6 Set 2011.