Do clássico "Ló em Sodoma", 1933, ao recente "Ninfomaníaca", 2013, vemos o sexo como tópico amplamente explorado nos cinemas - seja nas cenas ou no enredo em si. E nos últimos anos, como se não bastasse, tabus vêm sendo quebrados e, por consequência, há uma maior aceitação (e até certo anseio) em relação ao tema. A novidade da vez, aguardadíssima por sinal, é "Love", novo projeto do argentino Gaspar Noé.
Dos boatos fez-se o frisson. Da estreia em Cannes, a polêmica. Por quê? "Love" é o primeiro longa com cenas de sexo explícito inteiramente gravadas em 3D - o suficiente para aguçar a curiosidade de qualquer espectador. Eis que o filme chega às salas mundo afora e, no final das contas, comprova a tese de que uma trama interessante, uma fotografia excelente e um bom burburinho não são, de forma alguma, suficientes para sustentar um roteiro ruim.
Os arrastados 134 minutos do longa seguem a história de Murphy (Karl Glusman), rapaz frustrado com a vida que leva ao lado da mulher (Klara Kristin) e do filho. Após o telefonema da mãe de sua ex-namorada Electra (Aomi Muyock), Murphy relembra a ardente paixão compartilhada com a antiga amante. A partir daí, flashbacks revelam o passado do protagonista, basicamente composto por, adivinhem, as famigeradas sequências de sexo. Até o 3D, com a promessa de intensificar a identificação do espectador com o protagonista, acaba sendo recurso descartável e que pouco acrescenta à obra como um todo.
Mascarado por um existencialismo choco, o melodrama não chega a lugar algum - a impressão é que as cenas são jogadas na tela ao prazer do diretor. É indiscutível, porém, a beleza plástica do longa. Acompanhada por uma irresistível trilha sonora, a fotografia revela o melhor dos aspectos da direção de Noé. Somando a + b, "Love" mostra ser mais uma crônica melancólica sobre um amor perdido. Saudades "Ninfomaníaca"...
Por Ricardo Archilha
Atualizado em 11 Set 2015.