O mercado financeiro e seus segredos parecem ter se tornado os vilões da vez em Hollywood. Depois de “O Lobo de Wall Street” (2013) exaltar o clichê do “investidor-ladrão-vida-boa” e de “A Grande Aposta” (2015) ridicularizar os bancos e jogar uma luz (mesmo que difusa) sobre a bolha imobiliária americana, é a vez de Jodie Foster abocanhar o tema com um pouco mais de tensão hollywoodiana em “Jogo do Dinheiro”.
Em seu quarto trabalho como diretora, Foster é uma das poucas mulheres a figurarem na seleção oficial do Festival de Cannes deste ano e é a única entre os nove diretores na categoria “fora de competição”, ao lado de nomes como Steven Spielberg e Woody Allen. Desta vez, ela não atua no filme.
George Clooney e Julia Roberts – sempre carismáticos – são os protagonistas do drama, ao lado de Jack O’Connell (“Invencível”), Giancarlo Esposito (“Breaking Bad”) e Caitriona Balfe (“Truque de Mestre”). Clooney interpreta Lee Gates, um apresentador de TV que comanda um programa popular sobre investimentos chamado “Money Monster” (que é o título original do filme), e Roberts interpreta Patty Fenn, sua diretora.
Durante uma transmissão ao vivo, um jovem chamado Kyle Budwell (O’Connell) invade o estúdio e faz Gates de refém, acusando-o de ter recomendado um investimento ruim, que fez milhares de pessoas perderem seu dinheiro. Proibidos de cortarem o sinal, Patty, Lee e alguns membros mais valentes da equipe de filmagem decidem lidar com a situação fazendo o que fazem de melhor: transformando aquilo num show.
“Jogo do Dinheiro” consegue encontrar o equilíbrio exato entre crítica social e fantasia, provocando o público ao mesmo tempo em que o embala numa ação empolgante. O filme simplifica bastante os conceitos econômicos e não escapa de eleger um grande empresário como o vilão caricato, mas, nos diálogos e nas entrelinhas, surgem reflexões honestas sobre a imaterialidade do dinheiro, a facilidade de manipulação do mercado, cujos detalhes técnicos são inacessíveis à maioria das pessoas, e a distorção do jornalismo enquanto entretenimento.
Esse último tema, talvez, seja o que traz mais frescor à discussão. Em certo ponto, a personagem de Roberts admite que seu programa “não é jornalismo”, levantando uma questão bastante atual sobre a função da mídia de massa numa crise como a americana e – por que não? – como a brasileira. De um lado, veículos populares têm a capacidade de transmitir informações a uma multidão; mas, de outro, não serão populares se não tratarem a informação como um produto, escolhendo o que é mais atraente (e não necessariamente relevante) para o consumidor.
Outro ponto polêmico é a escolha de Patty por transmitir e manipular uma situação real de perigo, após a invasão de Kyle. Seria isso jornalismo, entretenimento ou uma fusão dos dois? O público parece não se importar com a diferença.
“Jogo do Dinheiro” chega aos cinemas no dia 26 de maio e vai agradar a quem procura um filme impactante, capaz de manter a tensão do começo ao fim e, de quebra, ainda fazer pensar. Imperdível.
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Por Juliana Varella
Atualizado em 27 Mai 2016.