Estreia nesta quinta-feira um filme leve e delicioso chamado “Florence – Quem é Essa Mulher?”. Curiosamente, o longa de Stephen Frears (“Philomena” e “A Rainha”) tem o mesmo enredo de um filme francês que estreou apenas duas semanas atrás no Brasil, “Marguerite”. Ambos são inspirados na história real de Florence Foster Jenkins – talvez, a pior cantora da História a se apresentar no prestigiado Carnegie Hall.
Não surpreende que, na versão britânica, Florence seja interpretada por Meryl Streep. Aos 67 anos, 19 vezes indicada ao Oscar e três vezes vencedora, Streep não tem medo de explorar seu lado mais ridículo entoando notas desafinadas dentro de figurinos de gosto duvidoso – e o resultado é absolutamente maravilhoso.
O longa apresenta Florence pela primeira vez como um anjo que abençoa um pianista com o dom da música. A irônica cena acontece durante uma peça teatral exibida num clube do qual ela é fundadora e patrocinadora, nos anos 40. Logo percebemos que a personagem é extremamente rica, apaixonada por música e pouco consciente das próprias limitações artísticas.
Em torno de Florence, orbitam dois personagens-chave: seu marido, interpretado por Hugh Grant, e o jovem pianista Cosme McMoon, vivido pelo ator ainda pouco explorado nos cinemas Simon Helberg, mais conhecido pelo papel de Howard Wolowitz na série cômica The Big Bang Theory. Pois é Helberg que surpreende, dando ao músico uma identidade tímida e delicada, mas ao mesmo tempo orgulhosa, expressa em passos flutuantes, olhares inseguros e risadas contidas.
Grant, por sua vez, recolhe-se a escanteio, economizando no sarcasmo que lhe fez a fama como se abrisse propositalmente o campo para que Florence e McMoon brilhassem no palco. E os dois, entregues à música e a uma amizade sincera construída pouco a pouco, ofuscam todo o resto.
A missão do filme, assim como a de sua protagonista, parece ser colocar um sorriso no rosto de cada espectador, combinado com uma careta a cada agudo mal alcançado. Observando a reação do público à ousada cantora, percebemos que às vezes, em meio às exigentes relações entre artista e consumidor, o elemento humano – com todas as suas imperfeições apaixonadas – pode se perder.
Nesta história que explora a desgraça alheia, o equilíbrio entre o drama e a comédia é delicado e Frears alcança o tom certo em quase todos os momentos. A atuação de Streep – surpreendentemente frágil e um pouco patética – garante a dose perfeita de humor, enquanto o contexto, que envolve uma doença e uma complicada relação conjugal, basta para dar ao filme a tensão necessária.
“Florence – Quem é Essa Mulher?” é uma pedida bem vinda para quem procura uma história inspiradora, mas engraçada, e nem é preciso dizer que este é um programa obrigatório para fãs de Meryl Streep. Diva, até desafinada.
Por Juliana Varella
Atualizado em 9 Jul 2016.