Um novo suspense brasileiro está chegando aos cinemas. “O Caseiro”, de Julio Santi, estreia no dia 23 de junho trazendo todo o clima sombrio que uma casa de campo habitada por espíritos pode trazer. Diferente de boa parcela dos lançamentos nacionais, este traz uma fotografia bem distante das novelas e séries de TV e a trilha sonora é um elemento forte e bem colocado, com aquela cacofonia perturbadora de filmes de terror. O enredo também é envolvente, mas falta, talvez, um passo a mais para tornar este filme um verdadeiro acerto.
O longa traz Bruno Garcia no papel de Davi, um professor universitário especializado na “psicologia do sobrenatural”. Um dia, ele é abordado por uma jovem (Malu Rodrigues), que lhe pede ajuda para solucionar um caso que vem assombrando sua família: sua irmã mais nova tem apresentado hematomas inexplicáveis e seu pai (Leopoldo Pacheco) acredita que o culpado é o espírito do antigo caseiro da fazenda – que se suicidou ali décadas atrás.
Davi vai até o interior e decide passar alguns dias com essa família. Lá, ele descobre que o pai e a tia (Denise Weinberg) das meninas escondem alguns segredos, que a casa do caseiro se tornou um lugar abandonado e que alguma coisa ronda a propriedade à noite, forçando os moradores a trancarem todas as portas obsessivamente.
Os ingredientes estão todos ali e o diretor, que também assina o roteiro ao lado de Felipe Santi e João Segall, não se apressa em revelar os mistérios, trabalhando diálogos e silêncios com cuidado. Entretanto, falta um pouco de criatividade para tornar o cenário realmente assustador: alguns recursos são repetidos à exaustão, como o enquadramento de uma menininha num longo corredor (referência um pouco óbvia demais a “O Iluminado”, de Stanley Kubrick), o uso de uma figura imóvel em segundo plano, observando, ou o discurso de uma das crianças sobre “não poder falar” porque “ele não deixa”.
Para os fãs mais atentos do gênero, a solução final poderá incomodar, já que parece se contradizer em pelo menos uma das cenas anteriores. Além disso, para provocar a surpresa, uma parte importante da história do caseiro é omitida, dando ao espectador a sensação de ter sido “trapaceado” para que não adivinhasse o desfecho.
“O Caseiro” é um longa interessante, bem executado e com uma boa história para trabalhar – mas é um longa incompleto. Apesar de criar a atmosfera, não chega a provocar medo, nem sustos. Apesar de envolver sua trama em mistérios, escolhe os elementos errados para revelar (o colar, por exemplo, poderia ser dispensado em favor de um caderno que é mostrado, mas nunca aberto) e, apesar de trazer algumas atuações bem naturais, personagens centrais são delegadas a atrizes inexperientes, quebrando a ilusão. Enfim, o filme tem suas fraquezas, mas é um estudo promissor para um diretor que ainda pode ter muito o que mostrar. Ficaremos de olho.
Por Juliana Varella
Atualizado em 15 Jun 2016.