Adaptações de games são um gênero quase amaldiçoado em Hollywood. Poucos, até hoje, conseguiram agradar aos fãs dos jogos, raros foram bem recebidos pela crítica e praticamente nenhum conseguiu os dois. “Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos”, que estreia nesta quinta-feira, não será o primeiro a conquistar essa unanimidade, mas, certamente, será um dos que mais dividirá opiniões.
O longa, dirigido por Duncan Jones, foi gestado por dez anos nos estúdios da Legendary Pictures e resgata uma fantasia há muito subestimada nos cinemas – especialmente em tempos de super-heróis humanizados e volúveis. O filme pode torcer o nariz de quem busca um drama realista, mas, para quem não resiste a um mundo povoado por orcs, grifos, Golens, magos e cavaleiros, será como um mergulho em sua melhor partida de RPG: envolvente e altamente viciante.
O filme narra uma guerra entre orcs, que buscam um novo mundo para habitar, e humanos, que defendem seu próprio território. Para isso, Jones e sua equipe adotam o ponto de vista de alguns indivíduos particulares: do lado dos orcs, acompanhamos Durotan (Toby Kebbell), o chefe de um clã que começa a questionar as consequências da guerra após ver nascer seu primeiro filho; enquanto, do lado dos humanos, vemos Lothar (Travis Fimmel), um comandante que luta para proteger seu rei e que questiona seus aliados após perder um filho.
Mais do que um filme sobre o confronto, “Warcraft” trabalha a origem do conflito, abrindo mão de um enredo mais complexo para concentrar-se na descrição de cada um dos lados: descobrimos como são as estruturas sociais de orcs e humanos, como eles escolhem seus líderes, como se formam seus guardiões, qual é sua relação com a magia e muito mais. Mais importante, conhecemos aqueles que serão os comandantes dos exércitos rivais nos próximos filmes, caso a franquia tenha continuidade.
É preciso lembrar que o longa traz aos cinemas, pela primeira vez e em grande parte para um público leigo, um universo construído desde 1994 em quatro jogos virtuais, muitas extensões, alguns jogos de tabuleiro e uma infinidade de livros. É toda uma mitologia, e não apenas uma história isolada, que precisa ser condensada em pouco mais de duas horas – o que, dadas as devidas proporções, o filme consegue fazer muito bem.
Quanto aos efeitos visuais, é interessante que a aparência dos orcs, de outras criaturas fantásticas e dos cenários fiquem no meio do caminho entre um visual “de cinema” e um visual “de game”. Reforça essa sensação a escolha de perspectivas e ações comuns nos jogos, como um passeio aéreo a bordo de um grifo, um duelo com a câmera atrás do “player 1” ou um encontro com os “sábios” em que é preciso dizer a frase certa para abrir uma porta secreta.
O filme é uma diversão para quem gosta do gênero, mas também tem suas fraquezas. A história, em geral, soa um pouco familiar (especialmente para quem cresceu nos anos 90) e o roteiro escorrega em pontos essenciais: a batalha climática entre orcs e humanos, por exemplo, é travada num momento confuso, quando inimigos maiores estão se revelando, e o público fica sem saber se a luta se deu por acidente ou foi intencional, o que é um problema bem grave.
Além disso, o diretor e os roteiristas tomaram o cuidado de não escolher lados, mas não conseguiram fugir do maniqueísmo ao colocar toda a "culpa" pela guerra numa fumaça mágica - fazendo de orcs e humanos meras vítimas de uma força maligna, e não realmente indivíduos com motivações e convicções conflitantes.
“Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos” chega aos cinemas no dia 2 de junho e pode não ser, ainda, o filme que vai quebrar o “encanto” das adaptações de games - mas talvez seja o início de uma nova febre, muito bem-vinda para quem já estava órfão de mundos mágicos e feitiços. Que venham mais de onde veio este.
Por Juliana Varella
Atualizado em 2 Jun 2016.