Alguns personagens surgem no momento certo, nascem como pontinhas de humor numa história dramática e crescem até garantirem seu espaço cativo na memória do público. Eles oferecem um raro respiro numa trama complicada e acabam se destacando pelo talento de quem os interpreta. Crodoaldo Valério, o Crô, mordomo bajulador da vilã na novela “Fina Estampa” de 2011, foi um desses prodígios e chega agora aos cinemas com seu próprio longa-metragem, “Crô- O Filme”.
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A ideia de transformar um bom coadjuvante num protagonista, moldando todos os outros personagens para que sejam tão caricatos quanto ele, soa como um enorme tiro no pé. Afinal, a piada deixa de ser inusitada e se torna previsível, obrigatória, desesperada.
Não que Marcelo Serrado, ator que incorpora o mordomo de corpo e alma, não dê conta do recado: suas sacadas são boas, sempre no tempo certo. Mas não basta uma boa atuação para segurar uma hora e meia de piadas repetidas e exageradas, escritas pelo autor da novela e criador do personagem, Aguinaldo Silva – que, sem o dramalhão da TV, parece perdido. A direção é de Bruno Barreto (Flores Raras).
Um pouco de tensão é injetada na segunda parte do filme para dar peso à trama: enquanto Crô procura sua nova “diva” (depois de herdar muito dinheiro e descobrir que não é apto para nada além da bajulação), uma de suas candidatas (Carolina Ferraz) tenta subir na vida explorando bolivianos em regime de escravidão. Entre esses imigrantes, uma criança decide fugir e chama a atenção do mordomo.
A presença de uma pequena heroína nesse universo hiper-colorido e cheio de gírias afetadas faria de “Crô – O Filme” um sucesso imediato entre o público infantil. O problema é que a classificação indicativa ficou nos 12 anos por conta de uma cena que sugere (bem de longe) uma relação sexual entre homens.
Se não há sexo explícito, também não se vê nenhum beijo gay – o que causa estranheza, já que o foco do filme é um personagem homossexual que, inclusive, está noivo. Este detalhe apenas se soma a uma coleção de escolhas questionáveis que desfilam pela comédia – como o uso de efeitos digitais para colar a cabeça adulta de Crô num corpo de criança, ou a ideia de dar um sotaque “portunhol” ao personagem de Milhem Cortaz. Por outro lado, as participações de Ana Maria Braga e Gaby Amarantos são grandes acertos.
“Crô – O Filme” deve atrair aos cinemas os fãs do personagem na novela e pode agradar a quem quiser perder alguns minutos do final de semana com piadas fáceis. Se seu objetivo, porém, for assistir a um filme realmente engraçado, fuja correndo.
Assista se você:
- Gostou do personagem Crô na novela “Fina Estampa”
- Tem filhos que gostam de Crô (acima de 12 anos)
- Procura uma comédia estilo “pastelão”
Não assista se você:
- Não gostou do personagem Crô na novela
- Procura uma comédia mais sofisticada
- Não gosta de humor exagerado
Por Juliana Varella
Atualizado em 29 Nov 2013.