De Los Angeles
O gênero da fantasia vem numa corrida estabanada desde que O Senhor dos Anéis abriu o veio e todos os estúdios resolveram brigar por uma parte do filão. Do primeiro As Crônicas de Nárnia até o recente A Bússola de Ouro, houve várias tentativas de se repetir o sucesso de Peter Jackson, mas sem ninguém chegar perto em termos de qualidade - especialmente A Bússola de Ouro, que deixa claro a correria na produção e uma série de decisões erradas. Entretanto tudo isso pode acabar ou, pelo menos, diminuir com a estréia de As Crônicas de Spiderwick. Dirigido por Mark Waters ( Meninas Malvadas), o filme recupera o cuidado com o roteiro, a coerência visual e o espírito dos grandes filmes de fantasia em cerca de 160 salas em todo o país.
Existe um conceito muito forte por trás de As Crônicas de Spiderwick: se olharmos com bastante atenção, veremos que o mundo sutil, ou mágico, existe ao nosso redor. Pode parecer tolo, mas, sem sombra de dúvida, promove um retorno às raízes da espiritualidade humana, num tempo longínquo no qual a natureza e seus "seres" faziam a diferença. Essa proposta nasceu da mente do ilustrador Tony DiTerlizzi e ganhou as páginas dos livros com a colaboração da jornalista Holly Black. Cinco livros nasceram dessa parceria e o conteúdo espalhado em todos eles foi reunido para gerar o filme, que estréia nesta semana em todo circuito brasileiro.
O filme narra a história do explorador Arthur Spiderwick que, depois de anos investigando a natureza, fadas e outras criaturas, criou o Guia de Campo - um livro com todos os segredos sobre o assunto. Arthur, porém, desaparece de sua mansão e, 80 anos mais tarde, uma sobrinha distante chega ao lugar com seus três filhos: Mallory (Sarah Bolger, de Terra de Sonhos) e os gêmeos Jared e Simon (vividos por Freddie Highmore, de Em Busca da Terra do Nunca). Entristecidos pelo divórcio dos pais, os irmãos precisam acertar seus ponteiros e, de quebra, solucionar o enigma do desaparecimento de Spiderwick, que passar a fazer parte de suas vidas depois que Jared encontra e abre o Guia de Campo.
Assim como os livros, o filme trata da integração entre as pessoas e o ambiente em que vivem. Sem precisar se apoiar em mensagens ecológicas ou algo do gênero. A mensagem é bem simples: esse mundo mágico está aí fora, mas você é que não procura direito. O real valor da mensagem está na jornada que as crianças precisam atravessar - correndo risco de vida, inclusive, para encontrar um novo equilíbrio para a família e também esse mundo sutil, que está em risco, agora que o livro foi aberto. Ele contém um segredo, que o ogro Mullgurath (participação especial de Nick Nolte) deseja para si com o intuito de destruir a Humanidade.
Esse segredo nada mais é do que o conhecimento e a sabedoria implícita em toda essa ligação entre os mundos. Não existe mágica propriamente dita em As Crônicas de Spiderwick. As criaturas são o que são e têm suas habilidades. Já, os humanos são, digamos, humanos. Não há enigma que mude a natureza dos personagens, e sua inteligência e sagacidade são as únicas armas contra seus problemas - familiares ou externos.
As Crônicas de Spiderwick é um filme coeso, bem-feito e o melhor que o gênero pode entregar num período de disputa por cada centavo da fantasia. Uma corrida que, aliás, precisa parar antes que mais estragos aconteçam. Um elenco bem escolhido, ótima integração entre autores, roteiristas e diretor e um tema milenar, mas, ainda assim curioso, fazem desse longa-metragem muito mais do que uma diversão infantil. Assim como o mundo sutil, se souberem procurar e entender, os adultos podem tirar muito proveito da obra.
Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.
O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.
Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!
Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.
Atualizado em 10 Abr 2012.