Guia da Semana

De Los Angeles




Somente neste ano, o primeiro escalão de Hollywood já tentou emplacar duas boas adaptações de filmes orientais de terror. Ambas falharam retumbantemente e uma aura negra pairava sobre novas tentativas, o que era um bom cenário, assim a qualidade asiática poderia permanecer intocada por mais algum tempo. Felizmente, o diretor Alexandre Aja ( Viagem Maldita) e Kiefer Sutherland decidiram entrar na brincadeira e o resultado é Espelhos do Medo, um terror cheio de pontos positivos e sustos inesquecíveis.

Sutherland vive Ben Carson, um ex-policial que tenta reencontrar seu rumo ao conseguir um trabalho como vigia noturno numa gigantesca loja de departamentos abandonada. Palco de um trágico incêndio, o lugar esconde mais segredos do que o personagem - e o público - está preparado para suportar. É o clima perfeito para a refilmagem do sul-coreano Into the Mirror, de Sung-ho Kim, de 2003.

A maior força desse longa-metragem é seu roteiro, que utiliza o terror como elemento dramático e não apela para os sustos óbvios e desnecessários. Muito mais que a habilidade de Kiefer Sutherland em responder à necessidade da história, Espelhos do Medo conta com um trabalho primoroso em termos de criação de cenários, iluminação e cenas com tomadas amplas e efetivas. A câmera passeia pelo prédio gigantesco que serviu como locação na Romênia e garantiu ao diretor boas opções para dar dinamismo e intensidade às situações de trabalho solo envolvendo Sutherland e diversos espelhos.

Ao mesmo tempo em que o personagem principal vai vendo sua vida pessoal sair cada vez mais de seu controle, a intensidade com que o elemento fantástico surge, aumenta. O que começa como pequenos detalhes nos espelhos do edifício passa rapidamente à revelação de que algo maligno está preso ali há muito tempo. Depois de já ter ceifado inúmeras vidas, agora quem está em perigo é a esposa e os dois filhos de Carson.

Ele não tem escolha: entrar no diabólico jogo de gato e rato envolvendo o prédio e um nome é a única saída para salvar a família. Mas nada ali é óbvio, simples ou fácil. No meio do caminho, ele perde um membro da família numa das cenas mais brutais que o cinema viu em 2008. Nem mesmo a sensação cômica com uma morte "à la Didi Mocó" tira a força da seqüência envolvendo Amy Smart, que foi capaz de mudar a vida do personagem e colocou o espectador de vez na torcida pelo mocinho.

Misticismo, terror e drama familiar se misturam em Espelhos do Medo, uma história na qual tudo tem dois lados e nada é o que parece. A única certeza é de que Kiefer Sutherland tem outro filme para se orgulhar. É preciso ter estômago forte e coragem para olhar através do espelho, pois, neste caso, não é a Rainha de Copas que vem cortar sua cabeça.




Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

Atualizado em 6 Set 2011.