Três anos após o sucesso mundial de “Intocáveis”, os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano voltam a se reunir com o ator Omar Sy na comédia dramática “Samba”, em cartaz no Festival Varilux de Cinema Francês em 50 cidades brasileiras. Os cineastas vieram ao Brasil para divulgar o novo trabalho e conversaram com a imprensa sobre cinema, imigração e música brasileira.
“Samba” narra a história de um imigrante senegalês (Sy) que vive há dez anos na França, mas ainda não conseguiu um visto permanente para morar no país. Sem esse documento, Samba (esse é o nome do personagem) não pode ser contratado como cozinheiro, como sonha, e fica limitado a trabalhos braçais como lavar pratos, limpar janelas ou asfaltar ruas – sempre a um passo da extradição.
O tema da xenofobia é muito urgente em toda a Europa e ganha uma perspectiva romântica e cômica no filme francês. “Nosso método é misturar drama e comédia para falar de forma mais sutil de temas graves, como a imigração. O uso do absurdo nos permite desmontar o lado surreal que existe na burocracia e provocar uma reflexão sobre o assunto”, explica Nakache.
Patrick Bruel, outro convidado do festival que assina a direção de “Sexo, Amor e Terapia”, concorda e acrescenta que a comédia francesa tem ganhado muito mais prestígio nos últimos anos justamente por tratar de temas sociais, mais universais e capazes de atingir um público internacional, como fez “Intocáveis”.
Outra estratégia para conquistar fãs fora do território francófono é incorporar outras nacionalidades. Em “Samba”, por exemplo, um dos personagens (vivido por Tahar Rahim) é árabe, mas finge ser brasileiro para conseguir melhores oportunidades no país – o que levanta ainda outra discussão interessante sobre estereótipos e preconceitos. Acompanhando essa mistura, a trilha sonora traz músicas de Jorge Ben e Gilberto Gil, escolhidas a dedo pelos ecléticos Nakache e Toledano.
Quem também desembarcou por aqui para o Festival Varilux foi a diretora Emmanuelle Bercot, cujo drama “De Cabeça Erguida” abriu o Festival de Cannes em maio deste ano. A artista também recebeu a Palma de Ouro de Melhor Atriz pelo filme “Mon Roi”, na mesma ocasião.
“De Cabeça Erguida” chamou a atenção da mídia por ser o primeiro longa de abertura em 28 anos dirigido por uma mulher. Quando questionada sobre isso, entretanto, Bercot não hesitou em afastar a associação: “Prefiro pensar que escolheram o filme pela obra, sem se preocuparem com o fato de ter sido dirigido por uma mulher ou por um homem. Acho que as mulheres têm sido muito mimadas ultimamente, e que é natural que haja uma diferença, afinal, começamos mais tarde. Eventualmente, haverá tantas mulheres quanto homens na direção e alcançaremos uma equivalência”.
O filme de Bercot também aposta num tema de importância social, discutindo a maioridade penal e a responsabilidade do Estado na recuperação de jovens delinquentes na França. A situação é bastante específica em relação às leis locais, mas pode render debates morais que se aplicam a qualquer país.
O Festival Varilux de Cinema Francês acontece entre 10 e 17 de junho em todo o país e traz 15 longas inéditos no Brasil, além de uma retrospectiva do ator Pio Marmaï e uma homenagem ao Rio de Janeiro com o clássico “O Homem do Rio”.
Por Juliana Varella
Atualizado em 1 Jul 2015.