Imagine um mundo onde os bebês realmente fossem entregues por cegonhas. Ou, pelo menos, onde tivesse sido assim por um tempo, até que um incidente levasse as aves a abandonarem a vocação e, no lugar das crianças, resolvessem se dedicar à entrega de celulares e outros objetos à venda numa moderna loja online.
Esse é o contexto de “Cegonhas – A história que não te contaram”, nova animação da Warner que estreia no dia 22 de setembro nos cinemas. No elenco brasileiro, Klebber Toledo, Tess Amorim e Marco Luque dão voz a três personagens centrais: a cegonha Júnior – um funcionário exemplar que precisa resolver uma emergência sem que o chefe fique sabendo; a humana Tulipa – que, num ato de inocência, gera um bebê não-autorizado na fábrica das cegonhas; e o pombo Luke – um funcionário dedo-duro que persegue a dupla e seu bebê clandestino.
Os atores conversaram com o Guia da Semana e contaram um pouco sobre os bastidores dessa divertida dublagem:
Para Toledo, que recentemente interpretou Romeu na novela “Êta Mundo Bom!”, esta foi uma experiência totalmente nova. “Animação é muito divertido, mas confesso que fiquei um pouco preocupado, porque não fazia ideia do que estava fazendo. Mas adoro coisas novas e gosto de me desafiar. Para mim foi muito bom porque abriu um leque maior ainda: eu gosto de fotografia, estou dirigindo, vou dirigir um musical pela primeira vez como assistente de direção, já fiz teatro, cinema, novela... Faltava realmente uma coisa nova”.
Para Luque, “Cegonhas” foi a terceira animação profissional, depois de “Khumba” e “Mortadelo e Salaminho – Em Missão Inacreditável”, que estreou na última quinta-feira. Dos três, a caçula Tess Amorim (que completou 22 anos no dia 15 de setembro) é a mais experiente: são 14 anos de dublagem, incluindo as vozes de Brooke Shields em “A Lagoa Azul”, Saoirse Ronan em “Atos que Desafiam a Morte” e de diversos personagens animados em séries como “Pokémon” e filmes como “O Castelo Animado”. Seu rosto, porém, é mais conhecido pelo trabalho no longa “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”.
Luque, pai de duas meninas(Isadora, 5, e Mel, 3), pode não ter tanta experiência com dublagem, mas foi o que mais se identificou com os temas centrais do filme. “Ter uma criança recém-nascida em casa me fez começar a ver filmes com legenda, só para não acordá-la”, confessou, entre risos. “Quando a criança dorme, a casa vira um bosque”.
Outro tema trabalhado no filme é a ideia de família num conceito mais amplo, mas de forma muito natural. “Eu acho lindo”, comentou Amorim. “As pessoas ficam pensando ‘Nossa, como é que eu vou explicar para os meus filhos?’, mas não tem que explicar. O mundo está aí e o mundo se explica”. Luque concordou e acrescentou que, para ele, família pode ser qualquer grupo de pessoas que se amam e se entendem como tal. Já Toledo criticou o excesso de julgamento que existe nas redes sociais e afirmou que “família é com quem você consegue ter uma relação de amor, companheirismo e respeito”.
O trio, apesar da aparente intimidade, não se conhecia até o dia da entrevista e Luque e Toledo não tinham sequer tido a chance de assistir ao longa até então. “Em dublagem é assim mesmo” – explicou a veterana. “Por uma questão de sigilo, os atores não costumam receber o filme, nem o roteiro, e cabe ao diretor te colocar a par da história”. Estudar o personagem como na televisão ou no teatro, portanto, estava fora de cogitação.
Os desafios para os novatos (ou quase) foram além do pouco conhecimento da história ou do personagem e incluíram as particularidades da dublagem de animação. “Uma pessoa real tem trejeitos que você precisa copiar, como uma respiração, que a animação não tem”, compara Amorim. “Mas a dificuldade da animação é o ritmo, muito mais ágil, com muito mais quebras de intenção – você está rindo, aí está gritando, aí, chorando, aí se joga no chão... É um ritmo de máquina que você tem que acompanhar.”
O resultado, porém, não deixa transparecer as dificuldades e, entre risadas sinceras e um pedido de brincadeira (será?) para repetirem a experiência, parece mais é que os atores se divertiram muito com seus personagens. Não é por menos: “Cegonhas – A história que não te contaram” é uma animação deliciosa e engraçada, para todas as idades.
Atualizado em 23 Set 2016.