Esqueça a moda, a música, a direção de arte. Se há um bom motivo para assistir a O Grande Gatsby, do diretor Baz Luhrmann, é para ver o ex-garoto-prodígio de Hollywood, Leonardo DiCaprio, em uma das grandes atuações de sua carreira.
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Luhrmann tem sido muito questionado por sua megalomania: foi ele quem criou o operesco Moulin Rouge e o longuíssimo Australia, além da adaptação adolescente de Romeu e Julieta com DiCaprio em 1996. Em O Grande Gatsby, porém, nem mesmo a excentricidade do diretor consegue ofuscar o drama pessoal do personagem vivido por DiCaprio, Jay Gatsby: o homem que sobe aos céus e às estrelas só para reconquistar um amor do passado e que despenca tão vertiginosamente quanto ascendeu.
A trajetória é narrada por Nick Carraway (Tobey Maguire), um eterno observador: como os olhos que estampam um outdoor na estrada por onde passam os personagens, Nick nunca chega a ser um protagonista – essa não é a sua história. Ele observa, sofre, ajuda, guarda segredos e só os reconta anos depois, no livro que escreve como terapia. Ele é primo de Daisy (Carey Mulligan), uma garota rica de Nova York que se casou por conveniência com o infiel Tom Buchanan (Joel Edgerton) e que é capaz de usar vestidos de festa em plena luz do dia, apenas pela diversão.
Nick também é vizinho de Gatsby (DiCaprio), um misterioso ricaço que organiza festas gigantescas em sua mansão, cujo rosto e o passado quase ninguém conhece. Gatsby é refinado e poderoso, mas também solitário como o próprio Nick. É perto de Daisy que ele se transforma, revelando uma criatura frágil e assustada, quase infantil. Não é só Daisy que ele ama: é o sonho de futuro que ela um dia representou, e que hoje parece tão próximo. Seu amor tange a obsessão, mas transborda ingenuidade. É triste testemunhá-lo.
Mesmo quando o filme ameaça cair num thriller tedioso de perseguição ou assassinato, DiCaprio segura a onda e lembra o espectador de que Gatsby é o centro do drama – não o adultério de Daisy nem o crime. Luhrmann, consciente disso, usa a direção para emoldurar o sonho trágico do herói: o festival de cores vivas, ângulos vertiginosos e cortes descontínuos só fazem reforçar o deslocamento de Gatsby e do próprio narrador diante de uma sociedade apoiada em aparências.
A trilha sonora tem seus pontos fortes nas batidas de black e em interpretações melancólicas como a Back to Black de Beyoncé. O resultado é um clima de rebeldia que quase destoa da elegância de Gatsby e Daisy, mas que faz sentido no conjunto concebido por Luhrmann. Um conjunto que respeita a obra original, mas que carrega um brilho próprio: seja na beleza incontestável da direção, seja no talento de Leonardo. O resto é luxo.
Por Juliana Varella
Atualizado em 12 Fev 2014.