Nas ruas, ao invés de camelôs e muito carros, na antiga Cinelândia as mulheres desfilavam com seus vestidos longuetes, luvas e chapéu, enquanto os homens vestiam seus melhores ternos, sempre bem alinhados aos sapatos brilhantes. O movimento nasceu com o surgimento de salas de cinema localizadas no centro de grandes capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, entre as décadas de 1940 a 1970. Foi palco para inúmeros acontecimentos e reinou absoluto, atraindo desde crianças, jovens, até homens e mulheres sem distinção. As cenas características de uma sessão de cinema não mudaram os anos, mas o espaço e o contexto onde elas acontecem sim, e muito.
Com o passar do tempo e o surgimento dos shoppings centers, a relação entre o público e as grandes metrópoles mudou. Os espectadores abandonaram o centro devido ao estrondoso aumento da violência, o trânsito excessivo e o acúmulo de sujeira que tomava conta das ruas. Isso fez com que muitos desses espaços históricos caíssem no esquecimento e se transformassem em estacionamentos, igrejas e edifícios.
Juntando, literalmente, os cacos do que restou das antigas salas, nos últimos anos, surgiu por parte de grandes produtoras cinematográficas a preocupação para com os locais depredados. Dessa forma, investiram na reabertura dos saudosos cinemas de rua.
Tradição
Hoje, onde as salas são padronizadas com designers modernos e poltronas reclináveis, os cinemas clássicos de rua ainda têm seus charme. Devido ao grande número de espaços abertos nos shoppings, é muito comum que o telespectador enfrente fila, seja para comprar o ingresso ou sua pipoca. Outras diferenças, comparadas aos cinemas de rua, ficam por conta da variedade de títulos, que costumam seguir um padrão e o valor mais alto do ingresso, já que nos centros de compra existem também outros tipos de lazer.
Já os cinemas de rua têm a característica de deixar o telespectador mais à vontade quanto à escolha do filme. O número de salas muitas vezes não se iguala a de um shopping, porém os filmes não seguem um padrão, o que torna comum encontrar um longa que tenha ficado por pouco tempo em cartaz e até mesmo títulos que não tenham ocupado as salas mais movimentadas. Confira como estão algumas salas tradicionais localizadas em São Paulo e Rio de Janeiro e conheça mais sobre suas histórias.
SÃO PAULO
Foto: Divulgação
Marabá: Inaugurado em 1944, o espaço serviu de cenário para exibições históricas, como as primeiras produções da companhia Vera Cruz. Manteve suas bilheterias abertas durante 63 anos consecutivos, até 2007, quando foi iniciada sua restauração. O espaço reabriu suas portas após uma reforma com investimento do grupo Playarte.
Onde: Avenida Ipiranga, 757, Centro - (11) 5053-6995
Cinema da Vila: Em 1959 era conhecido como Cine Fiametta. Nos anos 80 foi arrendado e alugado pela Companhia Cinematográfica Franco-Brasileira. Em seguida ganhou o nome de Sala Cinemateca e exibiu uma cópia raríssima de Joana d'Arc (1929), de Carl T. Dreyer. Nos anos 90 se tornou ponto de encontro de pessoas ligadas ao cinema e interessadas pelo assunto.
Onde: Rua Fradique Coutinho, 361 , Pinheiros - (11) 5096-0585
HSBC Belas Artes: Situado na esquina da rua da Consolação com a Av. Paulista, foi inaugurado em 1967 com apenas três salas. Nos anos 80 passou por uma reforma e ganhou mais três espaços, batizados com nomes de artistas brasileiros. Fechou em 2002 e foi reaberto em 2004 após apoio da iniciativa privada.
Onde: Rua da Consolação, 2423, Consolação - (11) 3258-4092
CineSesc: Inaugurado em setembro de 1979, o CineSesc tem como característica em sua programação privilegiar obras dos mais diferentes países do mundo. Considerada umas das salas mais charmosas de São Paulo, possui um bar, onde é possível assistir às projeções tomando um café. Homenageia diretores, atores e atrizes, exibindo seus principais filmes.
Onde: Rua Augusta, 2075, Cerqueira César - (11) 3082-0213
Espaço Unibanco: O antigo Cine Gaumont Majestic foi inaugurado em 1967 com apenas três salas. Em 1995 ganhou duas novas e uma cafeteria, localizadas na mesma rua, em frente do prédio original. O público que o procura busca uma programação variada, focada em filmes europeus, latinos e com um estilo cult.
Onde: Rua Augusta, 1475 (salas 1, 2 e 3) e 1470 (salas 4 e 5) - Cerqueira César - (11) 3288-6780
Lilian Lemmertz: O espaço privilegia as produções nacionais e foi idealizado pela filha da homenageada, a atriz Júlia Lemmertz, seu marido Alexandre Borges e a produtora PoliFilme. O local possuía um cinema e um teatro em arrendamento no Shopping Pompéia Nobre e estava inativo antes da reforma. Hoje conta com 90 lugares e novos equipamentos.
Onde: Rua Clélia, 33 - Pompéia - (11) 3873-9817
Gemini: Inaugurado em 1975, ganhou esse nome por ter duas salas idênticas com 379 lugares cada. Ambas possuem muitas características que os novos complexos cinematográficos não têm e mantém as origens antigas como as poltronas de couro, carpetes coloridos e a tradicional bombonière. O destaque fica por conta da programação que foi considerada uma das melhores da cidade pelo jornal O Estado de São Paulo.
Onde: Avenida Paulista, 807 - Jardins - (11) 3289-3566
Reserva Cultural: Inaugurado em 1967 junto com a sala Gazeta, o Gazetinha funcionou até 1999 . Uma grande reforma deu lugar ao Reserva Cultural, inaugurado em 2005. Localizado no térreo do prédio da Fundação Cásper Líbero, possui restaurante, bar, café e livraria. A programação privilegia filmes europeus, latinos, cults e independentes, mas existe também espaço para produções mais comerciais. No hall, três monitores de plasma e um telão exibem trailers e entrevistas.
Onde: Avenida Paulista, 900 - Bela Vista - (11) 3287-3529
RIO DE JANEIRO
Foto: Divulgação
Cine Roxy: Localizado no bairro de Copacabana foi inaugurado em 1938 e é um dos únicos cinemas em funcionamento no bairro. Reconhecido pela prefeitura como marco referencial na cultura cinematográfica da cidade, na reforma, foi dividido em três salas que ganharam sistemas de áudio e vídeo novos, além de poltronas confortáveis.
Onde: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 945 - Copacabana - (21) 2461-2461
Cine Leblon: Inaugurado em 29 de setembro de 1951, o Leblon faz parte da fotografia do Rio de Janeiro. Artistas, cineastas, formadores de opinião, além de moradores do bairro são fiéis ao complexo de quase 58 anos. A fachada é simples, a sala de espera em mármore rosa prepara o frequentador para o salão de projeção amplo, todo atapetado, um tapete grosso e macio de lato custo, e para as cômodas poltronas em couro. O Cine Leblon já passou por algumas reformas. A primeira sala de exibição (atualmente Sala 1), que tinha capacidade para 1.294 lugares, hoje possui 615 poltronas e a sala 2, 276 lugares.
Onde: Av. Ataulfo de Paiva, 391 A - Leblon - (21) 2461-2461
Odeon: É um dos últimos cinemas construídos na Cinelândia, em 1932. Sedia o Festival do Rio e ao longo do ano, outros festivais, como Curta-Cinema e Anima Mundi. Considerado um point da juventude carioca, possui uma sala com 600 lugares, uma livraria, e um bistrô muito frequentado na região.
Onde: Praça Mahatma Gandhi, 2, - Cinelândia - (21) 2240-1093
Cine Santa Teresa: Realizou sua primeira exibição em 2003. Cinco anos depois, conquistou o prêmio de Maior Exibidor de Cinema Brasileiro do País pela Agência Nacional de Cinema - ANCINE. Ampliou recentemente seus programas e desenvolveu métodos sociais voltados para todas a população do bairro.
Onde: Rua Pascoal Carlos Magno, 136 - Centro - (21) 2507-6841
Foto: Divulgação
Outras capitais |
Recife: Boas pedidas para de assistir a filmes sem pagar caro são o CineTeatro Apolo e o Cine Rosa e Silva. Nas salas são exibidos o melhor da programação nacional e internacional, inclusive a produção pernambucana. Salvador: Por lá quem faz as honras de cinema antigo são o Espaço Cultural Alagados (Rua Direita, Uruguai - (71) 3117-6517 / 8076) e o espaço Alexandre Robatto Filho (Rua General Labatut, 27, subsolo - Barris - (71)3116-8100), nome dado em homenagem a um cineasta baiano. Além disso, o local é reservado para a mostras sistemáticas de vídeo. Brasília: Inaugurado em 1960, o Cine Brasília é um dos mais importantes espaços culturais da cidade. Com capacidade para mais de 600 pessoas, o lugar abriga, desde sua inauguração, o principal festival de cinema do país, que segue para sua 42ª edição. Atualmente sucateado pelo tempo, desde os anos 1970 que o local não passa por uma reforma completa. Curitiba: O primeiro Cine Luz ficava na Praça Zacarias e existia desde dezembro de 1939. O cinema sofria freqüentes inundações quando chovia e, ironicamente, foi destruído por um incêndio, em abril de 1952. Hoje reformado recebe o público local e é um dos mais frequentados da região. |
Atualizado em 6 Set 2011.