Quem precisa de um novo Power Rangers? Tenho certeza de que esta pergunta passou pela cabeça de muita gente em algum momento entre o anúncio do novo longa-metragem, a divulgação dos primeiros trailers e a publicação desta crítica, às vésperas da estreia no Brasil. É claro que os fãs estão adorando a novidade e, como uma boa criança que cresceu nos anos 90, me incluo fortemente nesse grupo. Mas, ainda assim: quem precisa de um novo Power Rangers?
A resposta está nos novos fãs. Quem precisa destes Power Rangers não é o fã hardcore que assistiu a todas as vinte e cinco temporadas e sabe o nome de todos os Rangers que já passaram pela televisão. É, sim, o público adolescente que nunca brincou de morfar ou de controlar um Megazord, mas que vai se identificar com as questões pessoais dos protagonistas e talvez se enxergue na descoberta sexual de Trini, na decepção de Kimberly consigo mesma ou na dificuldade de Billy para se relacionar.
Para quem não reconhece os nomes, eles são os mesmos da primeira temporada da série, que foi ao ar em 1993. Os personagens, bem como parte de suas personalidades, foram aproveitados para este reboot, mas suas histórias são novas. Dacre Montgomery, por exemplo, interpreta Jason, o Ranger Vermelho e líder involuntário do grupo. Ele é um jovem jogador de futebol americano que tinha tudo para ser um herói nacional, mas seu jeito encrenqueiro o transformou em vilão e, agora, ele anda por aí com uma tornozeleira eletrônica.
Sim, uma tornozeleira eletrônica. Para um filme inspirado numa série infantil, os protagonistas não poderiam ser mais fora do padrão – não apenas por serem excluídos socialmente, mas por quererem isso. Por se comportarem mal, de verdade e de propósito. Jason, Kimberly (Naomi Scott) e Billy (RJ Cyler), cada um com o seu crime, se conhecem na sala de detenção. Zack (Ludi Lin) e Trini (Becky G.), ainda mais afastados da realidade estudantil, os encontram numa mina de ouro onde costumam se isolar do mundo. É lá que eles são levados até as moedas do poder e até a nave, onde conhecem Alpha 5 (Bill Hader), Zordon (Bryan Cranston) e o seu destino.
“Power Rangers” é uma lição para quem ainda pensa que investir num reboot é tarefa simples – que basta repetir todos os ingredientes do passado para se ter o público na mão. Não é bem assim... Aqui, vemos um esforço constante para equilibrar elementos do passado e do presente numa obra que não pareça datada, nem descolada demais da sua origem, nem adulta nem infantil em excesso. E, mesmo com todo esse cuidado, alguns deslizes inevitavelmente vêm à tona.
Se o filme acerta na dose de humor, no enquadramento nostálgico das batalhas ou na modernização da vilã Rita Repulsa (Elizabeth Banks), ele deixa a desejar no design dos Zords (é difícil diferenciar um do outro) e decepciona, especialmente, na trilha sonora – que pedia mais da guitarra enérgica dos anos 90 e menos do sintetizador psicodélico de “Stranger Things”, que virou o novo queridinho das produções teen (ele está até na série “Punho de Ferro”, uma das obras com menos personalidade que chegaram à TV neste ano).
Mas é na construção dos personagens que o filme realmente se sustenta – e finca raízes suficientemente profundas para garantir pelo menos uma sequência, prometida numa singela e certeira cena pós-créditos. E é nessa construção dos personagens, mais interessados em criarem relações verdadeiras com seus novos parceiros do que em morfar ou salvar o mundo, que “Power Rangers” se justifica enquanto reboot, trazendo algo a mais. Algo que o público - novo ou antigo – com certeza vai aprovar.
Por Juliana Varella
Atualizado em 20 Mar 2017.