Guia da Semana

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Muitas vezes nosso senso crítico não depende de aprendizado específico, estudos e análise. Basta apenas amadurecer, crescer, deixar de ser criança. Entre os críticos e cinéfilos, exigentes quanto à qualidade dos filmes vistos, existe o que se chama de pecados inconfessáveis. Mas, apesar dessa expressão sugerir segredo, todos adoram revelar quais são os seus pecados inconfessáveis.

Mas o que é isso, afinal? Pecados inconfessáveis nada mais são do que certos filmes ruins de que a gente gosta demais e sempre revê quando pode. Aquele filme que quando passa na TV você não perde, mesmo sabendo que ele é ruim.

E não é preciso ser crítico ou conhecedor de cinema para ter um pecado inconfessável no currículo de gostos injustificáveis. Muitas vezes basta ter crescido. Rever aquele filme que você adorava na infância ou na adolescência pode te fazer ver o quanto ele era ruim. Mas e daí? Você vê mesmo assim e se diverte do mesmo jeito.

Rever alguns filmes sobre os quais guardamos lembranças muito boas pode até ser perigoso. Corre-se o risco do desencanto e da perda de uma boa lembrança. Mas há aqueles que, mesmo revistos sob o crivo da maturidade, ainda que seja notória sua má qualidade, preservam o encanto.

Foi pensando nisso que decidi fazer uma lista de meus pecados inconfessáveis. Menos para exibi-los e mais para estimular o caro leitor a também fazer a sua e compartilhar conosco. Não se acanhe, não se envergonhe. Afinal, todos nós temos nossos pecados inconfessáveis... ou nem tão inconfessáveis assim. Aqui estão cinco dos meus.

Notting Hill (Roger Michell, 1999) - uma comédia romântica água com açúcar. No entanto, lida com algo de fascínio universal: a celebridade. Amplia sua universalidade ao compor uma fábula clássica de princesa e plebeu. Apesar de bobinha, não dá para resistir à graça de Julia Roberts e ao divertido, retraído e estabanado personagem de Hugh Grant. Fecha com chave de ouro a trilha brega na base de She, na voz de Elvis Costello: "Sheeeee, May be the face I can`t forget". Inesquecível.

Comando para Matar (Mark L. Lester, 1985) - o pai de todos os muscle movies dos anos 80. É o clássico absoluto do gênero muita ação, muitos músculos e nenhum cérebro. Arnold Schwarzenegger está no auge da forma e de sua carranca inexpressiva. O filme é tosco, com erros de continuidade grosseiros e um roteiro mais raso que poça de água. Mas para qualquer garoto dos anos 80 era um "filmaço". Não perco uma reprise.

Tango e Cash (Andrey Konchalovskiy, 1989) - com Kurt Russel e Sylvester Stallone no elenco, é mais um filme de ação cheio de piadas em momentos improváveis. Mas tem uma ação contínua de prender a atenção e um flerte com a linguagem das histórias em quadrinhos. Stallone faz um policial durão, almofadinha e cerebral, com ternos impecáveis, óculos de armação fina e postura blasé. Russel faz o oposto, relaxado, inculto, instintivo, reativo. O filme é mais um pastiche do gênero, mas é divertido. E a dupla Russel e Stallone funciona muito bem.

A Teoria do Amor (Fred Schepisi, 1994) - uma das muitas comédias românticas protagonizadas por Meg Ryan. Como filme de gênero é o velho água com açúcar, mas tem um detalhe que dá um tempero especial. Na história, a protagonista é sobrinha de ninguém menos que Albert Einstein. Em uma excelente e divertida caracterização de Walter Matthow, o gênio Einstein tentará, junto com outros três amigos cientistas amalucados, fazer as vezes de cupido. Mas não será nada fácil fazer sua sobrinha, uma brilhante aluna de Princeton, se apaixonar por um simples e nada culto mecânico de carros, vivido por Tim Robbins.

Pânico (Wes Craven, 1996) - não se trata do programa da TV brasileira, mas sim de um marco do terror adolescente. Fiquei na dúvida se o incluía, porque não o acho um filme ruim, mas, como faz parte de uma franquia e cujas duas continuações são ruins (e mesmo assim gosto delas), decidi mencioná-lo. O filme se tornou um marco, pois resgatou um subgênero desacreditado e desgastado: os filmes de terror adolescente. Não apenas o resgatou, como também reciclou e o fez usando a autorreferência e a autoironia como principais elementos de construção. Suas continuações são rocambolescas, repetições maquiadas do primeiro. Mas confesso que sou fã da série, de seu terror de muito susto e pouco suspense, de obviedades no roteiro e do caricatural de seus tipos. Agora em 2011, dez anos após o último da franquia, chegará aos cinemas uma quarta continuação. Estarei na primeira fila.

Leia as colunas anteriores de Rogério de Moraes:

Renovação de esperanças

Os indomáveis

Os mercenários e o conflito de gerações

Quem é o colunista: gordo, ranzinza e de óculos.

O que faz: blogueiro, escritor e metido a crítico de cinema.

Pecado gastronômico: massas.

Melhor lugar do Brasil: qualquer lugar onde estejam meus livros, meus filmes, minhas músicas, meus amigos e minha namorada.

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Atualizado em 1 Dez 2011.