Uma mulher, sozinha em sua própria casa, se prepara para dormir. Quando apaga a luz do corredor, uma figura surge entre as sombras, mas, ao acender, ela desaparece. E assim, apertando o interruptor de um lado ao outro cada vez mais incrédula, essa mulher descobre que, naquela noite, ela não vai dormir.
Este pequeno pesadelo é o curta de pouco mais de dois minutos que deu origem a “Quando As Luzes Se Apagam”, longa de horror de David F. Sandberg que estreia nos cinemas no dia 18 de agosto. Essa estratégia – de transformar curtas em longas – não é nova e já foi usada recentemente por Andrés Muschietti (“Mama”) e Damien Chazelle (“Whiplash”), mas é preciso saber trabalhar uma boa história de fundo para que funcione.
Neste caso, ela funciona muito bem: primeiro porque, se o seu monstro aparece sempre que há escuridão, isso significa que os protagonistas precisarão se cercar de luz dia e noite para se protegerem – e isso, em si, já é bastante assustador. Segundo porque existe um contexto familiar conturbado que permeia toda a história e evolui junto com os sustos, criando um arco completo que amarra todas as pontas no final.
O longa gira em torno de uma mãe, seus dois filhos e uma visitante indesejada. A filha mais velha, Rebecca (Teresa Palmer), saiu de casa há anos e hoje mora sozinha, tendo apenas a companhia do quase-namorado Bret (Alexander DiPersia). Já o filho mais novo, Martin (Gabriel Bateman), começa a ter problemas na escola porque não consegue dormir – e não é difícil adivinhar por quê.
A história de “Quando As Luzes Se Apagam” é um pouco mais interessante do que o clichê “assombração ocupa a casa e decide atacar seus moradores”. Aqui, a criatura não é propriamente um espírito (e o filme não se esforça demais para explicar o que ela é) e não tem uma ligação com o espaço, mas sim com a mãe (Maria Bello), com quem chega a ter diálogos extensos e uma relação de dependência.
Talvez não seja necessário enxergar além dos sustos e do suspense, muito bem construído nos jogos de sombra, nas expressões dos atores e nos sons de portas rangendo e unhas arranhando, mas, para quem estiver disposto, é possível perceber uma metáfora na relação da mãe com a criatura, que espelha sua própria relação com a depressão. Assim como acontece com muitas pessoas que têm a doença, familiares e amigos tendem a culpá-las e a se afastarem, afundando-as ainda mais na solidão.
O filme, entretanto, não foge de lugares-comuns: estão ali as frases de efeito, chantagens emocionais, intervenções policiais (geralmente inúteis quando se tratam de fenômenos sobrenaturais), porões, criancinhas excessivamente maduras e outros clichês. Isso, porém, é compensado pela simplicidade da trama e dos efeitos e pela qualidade da história. “Quando As Luzes Se Apagam”, enfim, é um filme bem feito, curto e sem excessos, que vai arrepiar cada pelo do seu corpo e, de quebra, ainda entregar algo a mais. Vale seu ingresso.
Assista ao curta "Lights Out", que deu origem ao longa:
Por Juliana Varella
Atualizado em 11 Ago 2016.