Guia da Semana



Conduta de Risco é a estreia do roteirista Tony Gilroy na direção e trata de forças como caráter, ética, dignidade. O filme já pode ser encontrado em DVD e é uma ótima dica para quem busca uma trama inteligente e instigante, daquelas que nos prendem do início ao fim.

Mais do que um simples thriller de jogos de poder e disputas jurídicas bilionárias, Conduta de Risco trás uma incisiva reflexão sobre preceitos de conduta ética e moral. E são três diálogos do filme que dão a chave para que se abra o debate e a reflexão. Três diálogos nos quais a retórica se torna mais incisiva do que qualquer acusação ou confissão.

Primeiro, ao dizer para seu melhor amigo que não é um inimigo, Michael Clayton (interpretado por George Clooney) recebe como resposta a pergunta: "Então quem você é?". Noutro momento, o irmão de Clayton lhe diz com veemência: "você sabe exatamente o que você é". E por fim, o próprio Michael Clayton diz: "eu não sou o cara que você mata, eu sou o cara que você compra".

Na trama, Michael Clayton trabalha para uma grande firma de advocacia, mas não necessariamente como advogado. Ele é o que eles chamam de "faxineiro", o sujeito que livra clientes importantes de enrascadas, sempre à margem da lei. Jogador compulsivo e endividado por um negócio mal sucedido, Michael precisa urgentemente de uma boa grana para pagar agiotas. Tudo se complica mais ainda quando um velho amigo, o melhor e mais experiente advogado da firma, uma verdadeira lenda viva dos tribunais, surta em plena audiência do maior caso que a firma defende: um litígio de 3 bilhões de dólares entre fazendeiros e uma multinacional do agrobusiness.

Michael é chamado para a missão de conter o amigo, que sofre de transtorno bipolar, e impedi-lo de pôr tudo a perder. É a partir de então que Michael Clayton é confrontado consigo mesmo e com sua conduta.

Tony Gilroy é roteirista experiente e conceituado. Em seu currículo estão filmes como O Advogado do Diabo e a franquia Bourne. Agora, ao aventurar-se na direção, mostra uma impressionante competência. Conduta de Risco se utiliza de diversas metáforas para significar a abismo moral em que o protagonista se encontra e as escolhas que ele faz ao longo do filme. Como a belíssima cena dos cavalos, logo no início do filme, que culmina com uma desconcertante surpresa, nos jogando dentro da trama com uma volta no tempo para entender como se chegou àquele momento. E este é outro ponto de incrível qualidade no filme. Sua narrativa, inicialmente não-linear, causa uma certa confusão de início, mas logo se desdobra numa trama bem montada, onde os elementos vão se apresentando no ritmo certo, afundando cada vez mais os personagens num jogo milionário entre uma inocência improvável e uma verdade sem caráter.

É nesse jogo de forças desproporcionais e de escolhas definitivas que Michael Clayton terá de agir. E será através das consequências desse jogo que ele se verá ao espelho e fará suas escolhas finais. E a melhor metáfora dessa escolha se dá num plano que expressa bem o mundo onde vive Michael Clayton. É quando ele, após desferir um golpe mortal numa estrutura aparentemente intocável, vai por uma escada rolante com a câmera o enquadrando de cima. O plano se fixa e enquadra as duas vias que Michael sempre teve na vida: uma escada rolante que sobe, outra que desce. O caminho que ele escolher o definirá sem retorno e dirá por definitivo quem ele realmente é e qual seu verdadeiro caráter.

Fica aqui a dica desse ótimo filme, que é também a prova de que Hollywood também pode fazer filmes inteligentes e reflexivos sem precisar cair na monotonia.

Quem é o colunista: gordo, ranzinza e de óculos.

O que faz: blogueiro, escritor e metido a crítico de cinema.

Pecado gastronômico: massas.

Melhor lugar do Brasil: qualquer lugar onde estejam meus livros, meus filmes, minhas músicas, meus amigos e minha namorada.

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Atualizado em 6 Set 2011.