Dogville é uma pacata cidadezinha do Colorado, que vive da mineração. A calma do local será abalada pela chegada de Grace (Nicole Kidman), que aparentemente está fugindo de bandidos e quer se esconder na cidade. Graças à ajuda de Tom (Paul Bettany), os moradores decidem acolher a recém-chegada. Seu novo amigo sugere que, em troca, ela preste alguns serviços gratuitamente aos seus protetores, como empregada doméstica, ou babá. Entretanto, a procura por Grace continua intensa, e quando os moradores de Dogville percebem o fato, concluem que podem tirar mais ainda da refugiada, e começam a chantageá-la e exigir mais e mais - bem mais do que ela estaria disposta a fazer, mas agora não há alternativa: Grace é praticamente uma refém na cidade.

Assim como Thomas Vinterberg, Lars von Trier criou o Dogma 95 para depois renegá-lo, prova de que tudo era apenas golpe de publicidade. Mas Dogville não deixa de ser diferente: o narrador e a divisão por capítulos dá um ar de conto de fadas ao filme; em vez de cenários há apenas marcações no chão e alguns móveis, como num palco de teatro. A força do filme reside no elenco (que tem nomes como Philip Baker Hall e Lauren Bacall) e nos questionamentos que provoca: Em um lugar pequeno como Dogville, é possível, ao mesmo tempo, esconder alguma coisa (e, assim, a falta de paredes vira uma metáfora) e ignorar horrores que acontecem bem ao lado? A solidariedade realmente existe? O próprio nome da cidadezinha carrega significado: talvez as pessoas não sejam melhores que cães.