Guia da Semana


Foto: Sxc.hu


Paixão é uma loucura, não há outro adjetivo. Às vezes nos faz tomar decisões ou ter atitudes que vão de encontro com todos os princípios impostos pela sociedade às moças de fino trato. Sem contar com a capacidade que a nossa consciência tem em nos condenar. Mas apaixonadas, consciência é algo que dificilmente conseguimos ter. E responsabilidade é algo que a gente perde.

A gente se desliga de tudo à nossa volta, não se concentra no trabalho, o pulso acelera, a gente quebra as regras, passa por cima de convicções, crenças e valores. William Shakespeare disse que a paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõe. É verdade. Nós mentimos para o chefe, para a família e até para nós mesmas. E mesmo correndo todos os riscos, ficamos cada vez mais apaixonadas. Vasculhamos a vida desse alguém como se fôssemos verdadeiras clandestinas, bandidas... loucas! Perdemos o controle, a compostura, o chão e, por vezes, até o respeito e o amor próprio. Perdemos o raciocínio, e o foco passa a ser aquela pessoa que faz parte do seu primeiro e último pensamento do dia.


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Quando estamos apaixonadas, é impossível disfarçar aquele sorriso imbecil que insiste esboçar o nosso rosto. A gente fica tão boba que acha que as cores são mais vivas. Somos capazes até de ver hipopótamos coloridos dançando no ar. Quando a gente tá apaixonada, ligamos para aquela pessoa só para ouvir a música que toca no rádio, e se formos multadas por causa disso, chegamos a pensar que isso não tem a menor importância. Aposto que por uma paixão você já fez coisas que em algum lugar do mundo te apedrejariam e a condenariam mais do que a sua própria consciência faz hoje com você.


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Quantas insandices você já não fez por conta de uma paixão? Quantos riscos não correu? Quantas pessoas já não magoou? Quantas vezes não se distanciou de certos amigos por conta de uma paixão desenfreada? Quantas vezes já não se anulou ou sabotou alguma coisa apenas para saborear um instantezinho preciso para viver toda aquela loucura? Quantas cenas patéticas e vexaminosas já não passou por causa de uma paixão? Aposto que já foi capaz até de entrar no cheque especial. Aposto que já foi parar em lugares que antes você jamais pisaria. Aposto que já passou noites em claro. Aposto que por essa paixão já fez regimes doentios. Aposto que já visitou as cartomantes mais charlatãs do universo. Aposto que já fez cursos de strip tease achando que aquilo o faria te pedir em casamento. Aposto que foi capaz de decorar poesias e gravar músicas que falavam sobre vocês. Aposto que propôs a ele usar um amuleto ridículo no pescoço, igual ao que está em sua gargantilha. Aposto que tatuou ou pensou em tatuar algo na pele só para ele achar que você é a mulher da vida dele.

Quando estamos apaixonadas, fechamos os olhos ao ouvir canções românticas e fantasiamos situações dignas de mocinhas e mocinhos vividos nos filmes mais água com açúcar do cinema americano. A gente é capaz de querer ir para a Bósnia com essa pessoa a bordo de um camelo. Não veríamos o menor problema.


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A gente abraça o travesseiro, beija a palma da mão, fala com o espelho, treina frases de efeito, faz poses sexys e ensaia olhares sedutores. A gente é capaz de passar um corretivo para ir à padaria e colocar uma roupa que faça a gente se sentir um mulherão, só pelo simples fato de achar que podemos encontrá-lo na esquina. A gente é capaz de ver a beleza no meio do caos. Se estiver chovendo e você está presa no trânsito, não há problema algum. Não, porque você já começa a fantasiar que aquela pessoa vai aparecer do nada, na sua frente, e vai acenar pra você no meio daquela tempestade. E você vai imaginar aquela cena de beijo molhado, de abraço apertado e de um rodopio no colo dessa pessoa. Mas o que a gente não pensa mesmo é o quanto isso tudo é ridículo e não passa de uma inconseqüência. Veja você:

1. Todos podem achar que o sorriso bobo que estampa a sua cara é típico de uma pessoa esquisita.

2. A sua concentração e produtividade no trabalho é zero, e o risco de você ser vista como a profissional mais dispersa e dispensável é bem grande.

3. Pare de ouvir como louca air supply, Bonnie Tyler ou Roupa Nova. E pára de achar que aquela música sertaneja fala exatamente o que você está vivendo. Afe Maria! Pode ficar bem chato para a sua posição social.


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4. No meio daquela chuva toda não há graça nenhuma. O cabelo fica uma verdadeira porcaria, a maquiagem borra, a roupa fica completamente abarrotada, os sapatos encharcados e, acredite, o seu herói não vai acenar para você no meio do caos e de todo aquele dilúvio. E caso você não acorde dessa sua alucinação, tenha certeza de que a única pessoa que irá acenar para você é o motorista mal educado e apressado atrás do seu carro, ou o pedestre que você quase atropelou.

5. Larga a mão de ser ridícula, porque as únicas pessoas que você irá encontrar na esquina ou na padaria são: o seu vizinho chato, o tiozinho que não sai de perto daquele balcão e o mané que demora um ano para te entregar três pãezinhos.

6. Bósnia?! Bósnia????

7. De boa, nem vou comentar os seus devaneios com o travesseiro e com a palma da mão. Tsc tsc tsc tsc

Mas eu confesso: é bom demais ser ridícula assim. Que venham os hipopótamos coloridos, as alucinações e a falta de foco. O dia que perdermos a magia disso tudo, aí sim, será uma loucura.

Quem é a colunista: Paola Del Monaco, casada com o Frango, brasileira com sangue italianíssimo. É uma pessoa bem bacana quando ninguém desperta o Alien que há dentro dela

O que faz: Rói as unhas, lê revista detrás pra frente, sempre esquece onde colocou suas chaves, guarda extratos bancários de zilhões de anos atrás e aos finais de semana só sai da cama depois das 11h

Pecado gastronômico: todos os tipos de massa e bolacha Bono com requeijão

Melhor lugar do Brasil: a poltrona lá de casa

Como falar com ela: acessando o blog da autora www.pedacodemim.wordpress.com

Atualizado em 6 Set 2011.