No último mês, estudei Platão. Seus diálogos Lísis, Fedro e O Banquete falam lindamente sobre amor e amizade. Embora sua abordagem tenha mais a ver com o amor à Filosofia, as questões são análogas às relações entre os seres humanos. E nos fazem pensar. Muito.
São vários os questionamentos de Platão sobre o amor e como o vivenciamos. Amamos porque nos falta algo e buscamos no ser amado o que nos falta. Seria essa "falta" como uma doença, que nos leva a buscar nossa "cura" no outro? Se amamos por carência, quem nos retribui esse amor é porque ama a carência que temos? Qual seria o amor ideal? Aquele em que, incompletos, buscamos o outro para nos completar ou aquele em que, já nos sentindo completos, buscamos o outro para nos suplementar?
São várias as teorias em que pensar. Que os amantes são inevitavelmente ciumentos, e que furtam o amado de outras convivências que lhe seriam proveitosas, causando-lhe um grave dano. Que perdem o domínio de si e têm seu entendimento e prudência afetados, sendo mais dignos de piedade do que de inveja. Que o amor, por fazer parte da natureza humana, é a única forma de sermos felizes. Que é por meio dele que podemos chegar à essência das coisas: do belo, da verdade, da virtude.
O Mito de Diotima, no Banquete, diz ser o amor a relação entre a pobreza e a riqueza. Uma relação que germina e vive, enriquece, morre e, de novo, ressuscita, nunca empobrecendo nem enriquecendo definitivamente.
Desde Platão, antes dele e até hoje, esse assunto é sempre atual. O amor é um tema eterno. Suas questões, infinitas. No entanto, parece-me, o tema assume essa complexidade por desvirtuarmos sua essência divina e a confundirmos com nossas necessidades momentâneas, com nosso desejo de segurança, com orgulho e vaidade.
Quando praticamos um amor desprendido e generoso, o que afinal é o amor de verdade, causamos estranheza e - não raro - tentam nos incutir extravagantes culpas. O ser humano está tão habituado a traduzir o amor como relação de compromisso, regrada por limitantes leis absolutamente estranhas ao amor, que conseguir amar sem muito questionamento acaba sendo, para muita gente, assustador.
Às de Platão, somam-se muitas outras perguntas. Afinal, quem me ama sem tentar me enclausurar está querendo exatamente o quê de mim? Quem me ama sem exigir exclusividade me ama de verdade? Quem não exige exclusividade saberá se dar a uma só pessoa? Isso é realmente necessário? Como posso confiar e me sentir seguro amando quem me ama sem exigir, sem tolher, sem restringir?
O amor virtual é real? Por que eu deveria desconfiar de quem diz me amar sem nada me cobrar e estando a quilômetros de distância? O amor que se realiza no plano das ideias, e não na carne, é amor? Se um contato à distância pode provocar reações às vezes mais intensas do que contatos físicos, seria isso inteiramente fantasioso? Por que amar e se deixar amar, e dizer "eu te amo" com desprendimento, pode gerar desconfiança?
Como posso amar e ter, em relação ao ser amado, o mais perverso sentimento de posse e um desejo de que ele só encontre a felicidade quando comigo?
Pessoalmente, não vejo o amor como carência, mas como transbordamento, e sinto que quanto mais desconstruo o amor que me foi ensinado desde o berço, mais ele cresce e se aproxima de algo realmente belo.
E sinto até dó do coitadinho do amor, imenso, infinito, sendo obrigado a agir entre quatro paredes de pequenas salinhas sem janelas e ali ter que dar o melhor de si. Como fazer bonito em espaços tão exíguos, entre tanta tirania, quando se é um tudo?
Será possível vivermos o amor de uma forma maior, sem enclausurá-lo nos limites estreitos dos formatos tão bem conhecidos e treinados por nós? Você já pensou nisso?
Leia as colunas anteriores de Ana Lucia Sorrentino
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Atualizado em 12 Fev 2014.