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Uma pesquisa da Universidade Penn State, nos Estados Unidos, publicada na revista PloS One, da Public Library of Science, afirma que moscas-de-frutas tiveram o comportamento sexual alterado quando expostas ao álcool, ou seja, os machos passaram a procurar por outros machos. Para simular o hábito freqüente em consumir bebidas, os especialistas colocavam doses diárias de etanol, investigando dados como experiência anterior, idade, características genéticas e celulares. No entanto, a vice-diretora do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo - CRATOD, Marta Jezierski Vaz, lembra que o estudo comenta que houve também um aumento da excitabilidade por fêmeas.
O psiquiatra, pesquisador e diretor do Centro de Referência em Álcool e Outras Drogas da Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro - Centra-RIO, Márcio Barbeito, conta que a pesquisa não pode explicar a homossexualidade do ser humano. "A dimensão da vida sexual humana inclui outros fatores como erotismo, cultura, religião, moral e ciência, que estão completamente ausentes na vida das drosófilas [moscas-de-frutas]", diz.
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Mesmo assim, os especialistas lembram que a bebida alcoólica influencia no sexo. Altas doses geram intoxicação, sonolência e inibição, prejudicando o desempenho sexual. O consumo crônico pode causar a diminuição da potência sexual e da libido. Os dependentes costumam ter ainda dificuldades nas relações sociais e interpessoais. Marta lembra que o álcool passa por todos os tecidos, invadindo o cérebro e causando irritabilidade neuronal. Com o passar do tempo, ocorrem danos ao tecido nervoso, com morte dos neurônios e perdas cognitivas (memória, orientação e capacidade de raciocínio). Além disso, podem se perder os tecidos das glândulas e haver menor produção de hormônio, com o aparecimento da impotência.
Já o consumo moderado do etanol acaba "facilitando" a vida social e erótica. O álcool é uma substância depressora do Sistema Nervoso Central, mas possui efeitos iniciais de desinibição, quando consumido em até duas doses.
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A dependência acarreta também neuropatias de toda ordem. Podem ocorrer, por exemplo, amnésias lacunares ( blackouts) e até coma alcoólico. Durante a abstinência, a pessoa pode desenvolver problemas neuropsiquiátricos, como o Delirium Tremens (confusão mental), que afeta a mente, o comportamento e o metabolismo, além de crises convulsivas e demências. "Muitas vezes, o indivíduo que se alcooliza abusivamente aos 20 anos vai apresentar sintomas 20 anos depois", acrescenta Marta. A sexóloga Rita Jardim ressalta que o álcool deterioriza mais rápido o organismo feminino, pois a mulher possui menor quantidade da enzima que metaboliza a bebida em comparação ao homem.
Principais conseqüências para o cérebro
? Demência Alcoólica: declínio da capacidade cognitiva do indivíduo, com prejuízo da memória, da intelectualidade, da capacidade em executar tarefas e da lucidez. ? Degeneração Cerebelar: o cerebelo é a estrutura cerebral responsável pelo equilíbrio e integração dos movimentos. Em alguns pacientes alcoólatras a estrutura sofre lesões e o indivíduo apresenta marcha instável e dificuldades de coordenação motora. ? Ambliopatia Alcoólica: condição rara, provoca a turvação progressiva da visão, devido a múltiplas deficiências nutricionais ? Doença de Marchiatava - Bignami: atrofia grave de uma estrutura cerebral conhecida como corpo caloso, trazendo demência. |
Outras substâncias que interferem na sexualidade são drogas que causam dependência ou que aumentam a serotonina (neurotransmissor), como antidepressivos, produzindo disfunções sexuais (como impotência). Já aquelas que aumentam a dopamina (neurotransmissor), favorecem o desejo sexual. Um grupo de células nervosas ricas em dopaminas é o possível centro do prazer do sistema nervoso. Quando os neurônios liberam a substância, de acordo com pesquisas, ocorre uma forte sensação prazerosa, incluindo o orgasmo. Dessa forma, alterações no circuito do prazer podem reduzir a capacidade sexual, os hormônios e a libido, além da atividade motora.
A médica pesquisadora do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica da USP, coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool e assessora científica do Programa Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein, Camila Magalhães Silveira, conta que as disfunções sexuais atingem mais de 80% dos indivíduos dependentes. Nas mulheres, podem ocorrer problemas ginecológicos como dor na relação sexual e redução da secreção vaginal. Os homens têm a ereção e a ejaculação prejudicadas.
As drogas e o sexo
As substâncias psicoativas podem afetar a função sexual a partir da alteração de neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e dopamina); pela ação direta ou indireta na liberação de hormônios capazes de aumentar a libido (testosterona, progesterona e estrógeno) ou por atuarem diretamente sobre o fluxo sanguíneo e outros mecanismos fisiológicos dos órgãos sexuais. ? Anfetaminas: em baixas doses, aumentam a libido, retardam o orgasmo e ajudam a obter orgasmos múltiplos. Alguns usuários, no entanto, relatam dificuldade em alcançar o prazer sob o efeito da substância. Pessoas que aplicam a anfetamina injetável dizem ter o desejo aumentado, porém com inabilidade para atingir a ereção completa. Em doses elevadas e uso crônico, a substância traz problemas de ereção, atrasos na ejaculação e atraso no orgasmo feminino. Atuando sobre a dopamina e a noradrenalina, o uso dependente reduz a disponibilidade das substâncias, repercutindo na libido. ? Ecstasy: batizado como a "droga do amor", possui impacto direto sobre o aumento da sensualidade e do desejo. Apesar disso, usuários costumam relatar que a substância impede ereção e orgasmo durante o ato sexual.
? Cocaína: os efeitos são controversos. Alguns indivíduos relatam que ela é dotada de propriedades afrodisíacas que induzem mais facilmente à ereção e à ejaculação, facilitando orgasmos múltiplos. Por outro lado, há usuários que relatam piora em todos os aspectos da função sexual. Isso se deve principalmente à dose administrada, às expectativas relacionadas ao consumo, ao efeito das impurezas e outros. O uso crônico pode reduzir ou não possuir qualquer ação no desempenho sexual. Os homens podem ter problemas em manter ereção e ejaculação (tornando-se tardia ou precoce), questões que permanecem por um tempo após a abstinência. |
A idade avançada contribui para a perda da libido. Ela traz um declínio das funções fisiológicas, incluindo a capacidade do fígado em metabolizar (destruir) o álcool e do sistema nervoso em tolerar alterações comportamentais induzidas pela dependência. Assim, os danos causados aos idosos são mais graves, inclusive na esfera sexual, por se tratar de uma idade onde outros fatores (como queda de hormônios) podem comprometer a sexualidade. Preocupação e estresse, cansaço, insônia, dependência do tabaco e doenças como diabetes e hipertensão ajudam a diminuir o desempenho. Alguns estudos mostram que contribuições genéticas interferem em comportamentos sexuais como homossexualismo e perversões (parafilias).
Leia mais: a bebida alcoólica prejudica mais a mulher do que o homem. Entenda como.
Colaboraram:
? Marta Jezierski Vaz
? Márcio Barbeito
? Camila Magalhães Silveira
? Leonardo Gama Filho
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? Rita Jardim
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Atualizado em 10 Abr 2012.