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A homossexualidade não é simplesmente uma prática sexual com uma pessoa do mesmo sexo, mas sim o desejo de se vincular emocionalmente e sexualmente a ela.
Dentro de um contexto histórico, o homossexualismo, em um primeiro momento, era considerado pecado e, portanto, uma falha moral e teológica. Depois se tornou crime social, contra qual o Estado legislava. Tentativas médicas tentaram provar que seria uma disfunção sexual, ou perversão sexual e mais tarde uma inadequação psicológica. Apesar do preconceito velado da sociedade, a opção homossexual deixou de integrar os códigos da patologia clínica passando a ser uma orientação sexual, tal qual a heterossexual. Entretanto, nos deparamos com uma conduta hostil e violenta, estabelecida pelo poder social coercitivo a que estamos submetidos.
"Existe uma imutabilidade biológica onde o sujeito nasce do sexo masculino ou do sexo feminino, mas no desenvolvimento da sexualidade e nas experiências individuais, se descobre ser não basicamente instintivo, mas desejante. Nossas escolhas de objetos de amor se darão sem guardar necessariamente uma relação com o sexo biológico do parceiro", esclarece a psicóloga Sônia Gomes.
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Todo o indivíduo recebe valores desqualificativos em relação às pessoas com a opção sexual divergente da dele, o que gera comportamento preconceituoso de distanciar aquilo que não somos e tampouco queremos para nós. Se antes, a homossexualidade era tida como perversão sexual, hoje ficou esclarecida que a homo e a bissexualidade são manifestações dos desejos sexuais e afetivos. Internalizar essa realidade, se afastando da crença do ato como defeito de caráter, desvio ou comportamento aprendido, é uma maneira de sair dos limites dos próprios valores julgados éticos.
"Hesitei em assumir minha sexualidade. A conversa que tive com minha mãe foi bem madura, mas foi horrível vê-la chorando, enquanto eu revelava meus medos e minhas dúvidas. Depois de nosso "período de adaptação", as coisas gradativamente se tornaram mais fáceis. Nós já ríamos e contávamos piadas juntos, falávamos sobre qualquer coisa sem preconceito nenhum, mas não foi um processo rápido. Demorou aproximadamente dois anos. Hoje nós sabemos exatamente quem somos e nos orgulhamos pelo respeito e admiração que temos um pelo outro. O respeito é a base da minha família", diz o ator e fotógrafo Fabiano Lira, 19 anos.
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Gays conseguem sentir prazer com mulher, mas o desejo e a satisfação absoluta estão direcionados ao indivíduo do mesmo sexo. O prazer é o mesmo, mas vale ressaltar a importância do uso do preservativo na prevenção de DST e AIDS. No caso das mulheres, o risco de contrair o vírus do HIV está no contato com os fluídos vaginais e da menstruação.
O fato do ser humano manter relação sexual com pessoas do mesmo sexo, não figura homossexualismo, segundo a sexóloga, Rita Jardim. "Há uma diferença entre prática e orientação sexual. Transar com uma pessoa não significa que se tenha desejo sempre por aquele sexo. Um heterossexual que experimenta transar com um gay não se torna bissexual por causa disso, como também um homossexual não se transforma em bissexual, só porque teve relação com um heterossexual. O bissexualismo envolve atração sexual por ambos os sexos, mas principalmente por envolvimentos afetivos e vínculos sentimentais".
A revelação de um filho sobre sua opção sexual adversa à esperada, causa estranhamento dos pais. Eles procuram os culpados, afirmam o corrompimento do filho por alguém, acreditam que ele esteja doente estabelecendo tratamento psicológico, além de fingir uma percepção contrária as evidências. Na maioria dos casos, os pais não aceitam conviver e a minoria consegue discernir o fato.
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Para haver a aceitação do homossexualismo de um filho, é necessário o amadurecimento dos pais. A apropriação de um destino pode causar conflitos irremediáveis. Filhos são criações que quando desenvolvidas se tornam independentes das vontades alheias. O objeto final vislumbrado pelos filhos passa a ser designado por eles mesmos.
"Quando meu filho revelou ser homossexual, minha reação foi normal e tranqüila. Já suspeitava desde a sua adolescência. O pai dele nem sonha com essa possibilidade. Eu até aceitaria um namorado dele, caso houvesse seriedade no relacionamento, mas se pudesse mudar as coisas, meu filho seria heterossexual com certeza", dispara a professora, *Deborah, 45 anos.
A primeira reação dos pais de um gay, ao constatarem a verdade sexual do filho, é a negação, pois jamais admitiram haver algo diferente no comportamento do rebento e o obriga a viver em vida dupla. A descoberta traz a insatisfação, decepção, rejeição e discriminação. Passam a se responsabilizar pela decisão do filho atribuindo a opção alternativa à dinâmica familiar. Famílias mais esclarecidas tendem a aceitarem com mais naturalidade essa nova condição social da família.
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Cada ser é dotado do livre arbítrio para direcionar suas escolhas de acordo com aquilo que almeja. Por sua vez, essas escolhas nem sempre vão convergir com o esperado pelos genitores. O ápice da questão parte da sociedade intolerante e não dos filhos. Não existem culpados ou vítimas, mas sim pessoas com desejos instintivos adversos da maioria. A diplomacia é a melhor arma em um combate, porém sua conquista implica em diálogo, aceitação, respeito e tolerância frente às diferenças.
"Ser gay, é só um detalhe, afinal não importa qual o sexo da pessoa que você vai para cama, mas sim o ser humano que você é no mundo, as ações desenvolvidas para uma vida melhor, o respeito pelos outros e a maneira digna de enfrentar seus problemas diariamente. Aprendi através do relacionamento com a minha mãe que não importa ser gay ou não. O importante é amar e ser amado, não como homem ou mulher, mas sim como ser humano. Posso dizer com toda a certeza que tenho orgulho de ser quem eu sou. Não sou só gay. Sou também um cara honesto, inteligente, esforçado, que ama tudo o que faz e é gay", completa Fabiano.
A funcionalidade do papel dos pais é orientar, educar e direcionar os filhos, preparando para os contratempos impostos pela vida, mas o agir e o como dispor do corpo e da mente é uma decisão inerente a cada indivíduo. A direção é sempre mais importante que a velocidade, portanto saber para onde ir é o primeiro passo para alcançar objetivos que independem de opções pessoais.
*O nome foi alterado a pedido da entrevistada
Colaboraram:
? Dra. Sônia Gomes
Fone: (21) 7827-2502
Email: [email protected]
? Dra. Rita Jardim
Pink Chic - Downtown
Endereço: Av. das Américas, 500 - Bloco 4
Fone: (21) 2496-3668
? Marleide Ferreira de Lira
? Fabiano Luiz de Lira Bezerra
Atualizado em 6 Set 2011.