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E quem um dia irá dizer que existe razão para as coisas feitas pelo coração?
Para ouvir ao som de Lugares Proibidos, de Helena Elis
Oi... Feliz aniversário! Não, não fala nada, só ouve... tô ficando louca!... não sei o que tô fazendo, me sinto ridícula, eu, eu... me sinto a Vera Fisher... sabe a Vera Fisher com o Felipe Camargo? Não! Você não sabe, porque não é do seu tempo...
Aff, nunca pensei em falar isso: "Não é do seu tempo. É um sinal de que eu tenho que te esquecer... e esse tempo, você acha que eu vou conseguir suportar o tempo passar? Não, você não tem que achar nada, porque eu não te pedi pra falar.
Você só vai ouvir... eu tô me sentindo ridícula... eu acho que eu já falei isso... eu comprei um All Star pra você... e o pior, comprei um pra mim também! Sabe o que eu fiz ontem? Eu baforei dentro do meu carro fechado e escrevi nossos nomes no retrovisor!
Eu, eu... outro dia eu escrevi com o suor da cerveja o teu nome na mesa. Daqui a pouco vou comprar papel de carta colorido... Oi? O que é papel de carta? Ai... Pára de falar... Eu não ouço mais ninguém... Sabe de uma coisa: caguei pra opinião dos outros.
Por que você não pode me dar nada? Quem disse que eu quero alguma coisa? Quer dizer... eu quero sim, quero você pra mim! Eu não tenho que ter medo de perder você para uma menininha da tua idade, porque você tem que ser muito idiota em me trocar por alguém da tua idade... E outra: eu achava lindo a Vera e o Felipe, a Elba e o Gaetano. Eu só queria"...
Desligou o telefone assim que o avistou na esquina. Esperou impaciente fora do carro, na chuva. Sentiu-se jovem, livre, feliz. Como saída de uma daqueles livros cafonas com nome de mulher e desenhos de casais se beijando na capa. Ele desceu, riu e descobriu porque nunca a tinha visto de cabelos molhados. Ela descalça com os sapatos na mão esperou que ele corresse em sua direção.
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Conheceram-se através de um amigo em comum. Tinha saído ferida de um relacionamento desgastante. A última coisa que queria naquele momento era se envolver com alguém. Costumava dizer, como na música, que: "Seu mundo estava fechado para visitação".
Na pracinha que costumava ir aos sábados com amigos ela acabou reencontrando um que há muito não via. Mal olhou para os lados e não deu muita importância a quem o acompanhava. Cumprimentou-o com um "oi" simpático e nem chegou a trocar um beijo no rosto. Em um daqueles típicos dias de outono em que amanhece frio e no meio da tarde o calor já se tornava escaldante, a cerveja servia como ótima parceira.
Com tantos amigos ao redor ela pouco pôde dar atenção a alguém específico, no entanto, as poucas palavras que trocaram foi suficiente para despertar o interesse dele e, no final da noite, já em casa, recebeu uma mensagem pelo celular: "Câncer combina com Aquário? rs. bjs F.R."
Demorou até lembrar de quem se tratava, depois se surpreendeu dele saber até qual o seu signo. Passada a empolgação repentina de mensagens recebidas num sábado à noite, o esqueceu e deixou de lado, até que no dia seguinte, depois de assistir a um espetáculo de teatro, o acaso colocou novamente os dois frente a frente.
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Juntaram as mesas e com tantos amigos reunidos, a cadeira estrategicamente posta ao lado dele fez os outros ficarem a parte e por muito tempo eles não viram as horas passarem. Riram e se divertiram muito com as afinidades e com tantas outras coisas em comum, com exceção de um fato: ela tinha quase dez anos a mais que ele.
Ele havia deixado ela encantada, boba. Mas uma balzaquiana, embora telespectadora assídua de Sex and the City, que se preze tratou de catalogar os prós e contras no seu caderninho e depois de muitas conversas com amigas passou a recusar suas investidas em ir ao cinema, responder os recados no orkut ou atender suas ligações.
Se a astrologia ela seguia a risca, reconhecer o acaso e dar uma ajudinha para o destino faria a diferença. Foram inúmeras às vezes em que se encontraram sem marcar nada, e não por vontade própria, os amigos em comum foram aumentando e tornou-se quase impossível ficarem sem se ver com freqüência. Cada dia que passavam juntos ela ficava mais encantada com sua vontade de viver, com sua maturidade e seu despudoramento em ser feliz. Era claro que ele a fazia sorrir.
O primeiro beijo aconteceu na fila para o banheiro da boate. A atitude partiu dele e como ela tinha bebido um pouco além da conta, sumiu no meio da festa assim que suas bocas se separaram. Ficou dias sem atender e responder seus recados. Tinha medo de se entregar, de se machucar.
Na véspera do aniversário dele, ela deixou na portaria do seu prédio um embrulho com um tênis e um CD que ela mesma gravou com músicas que eles gostavam. Deixou em um horário que sabia que não correria o risco dele aparecer e surpreendê-la por lá. Ficou na esquina, dentro do carro. Viu a hora em que o porteiro o entregou. Chegou a deixar o telefone desligado e à meia-noite, não resistindo, ela ligou.
Quem é o colunista: Guilherme Gonzalez, administrador e ator do Pará para a Terra da Garoa.
O que faz: Paraense, radicado em São Paulo, Guilherme Gonzalez é uma mistura de ator e produtor cultural. É um dos fundadores da Cia. Teatro de Janela.
Pecado gastronômico: Sorvete de tapioca.
Melhor lugar do Brasil: Praia do Amor em Pipa/RN bem acompanhado.
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.