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As redes sociais viraram febre no mundo e trouxeram com elas os jogos online. Hoje em dia é comum ouvir, em plena balada, que a fazenda está a todo vapor ou que o apartamento está um luxo. Tudo virtual, claro. Até aqueles que não se interessavam por jogos se renderam.
Há alguns meses, descobri um jogo chamado Biotronic no perfil de uma amiga. Fiquei intrigada com os comentários na disputa pela melhor pontuação. Sempre curiosa com novas tecnologias e tendências, cliquei para ver do que se tratava. O jogo consiste em juntar três, quatro ou cinco peças da mesma cor. O desafio é completar a fase no tempo estipulado. Parece simples, mas não é.
As cores se fundem em várias possibilidades e o excesso destas nos confunde. Encarar aquele quadro colorido com opções de juntar o amarelo, o vermelho e o azul me fez pensar em quantas possibilidades existem na vida ao nosso alcance e, pelo fato de termos sempre a mesma visão, deixamos escapar. Ao perder o jogo confiro com uma visão mais ampla do quadro e descubro que no canto direito ou esquerdo existiam peças que fariam toda a diferença. E pergunto: será que cometemos os mesmos erros na vida?
Nietzsche, filósofo alemão do século 19, defendia a teoria do eterno retorno, que consistia em repetir tudo tal como foi vivido e depois se repetir indefinidamente. No jogo, assim como a ideia de Nietzsche, já me peguei repetindo os mesmos erros, olhando para o mesmo ponto no quadro colorido e reconhecendo outras possibilidades quando o jogo já está perdido.
Gabriel García Márquez, no livro Cem Anos de Solidão, também menciona a ideia de que tudo se repete. Úrsula, a matriarca dos Buendías, olhava para as atitudes dos seus descendentes inconformada por já ter visto os mesmos modos e maldizia a sorte de não conseguir quebrar o ciclo da repetição. Como se os erros fossem passados de pai para filho, herdados geneticamente.
Pensando nessa teoria e resgatando da memória os amores vividos, cheguei a conclusão de que todos os relacionamentos que tive, com pessoas diferentes, idades e pensamentos distintos, foram se desgastando pelos mesmos erros. E, por mais que me ensinassem com a perda, eu, assim como Úrsula, não conseguia quebrar o ciclo.
Para mudarmos os conceitos e atitudes, evitando os mesmos erros, nada melhor que a virada de um ano e muitas resoluções na agenda. A principal decisão para este novo ano é olhar para pontos diferentes no quadro colorido, não do Biotronic, mas da vida. Se antes era impossível a possibilidade de uma academia, hoje quero me matricular. Se nos anos anteriores, sofrer por amor era descartado, hoje quero morrer por ele.
Entregar-me a uma paixão desvairada e sem limites. Não esperar por uma ligação e me antecipar e ligar para todos os amigos, amores e família. Celebrar o amor o ano inteiro e reservar um dia para fazer uma festa e brindá-lo. E as desilusões, frustrações e medo que compõem esse quadro poderão ser deixados em um canto, sabendo que estão ali e que são necessários, mas que o meu olhar estará buscando sempre novos horizontes.
Quem é a colunista: Lu Fantaccini.
O que faz: Jornalista, cozinheira e palpiteira.
Pecado Gastronômico: Brioche francês.
Melhor lugar do mundo: A minha casa.
Fale com ela: fantaccini @gmail.com
Atualizado em 6 Set 2011.