Guia da Semana

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E 2010 chegou quietinho, bem devagar na cia do bom senso. Após um período sabático que durou pouco mais de 20 dias, do qual me desliguei completamente dos afazeres de uma vida literária, volto a este espaço para fazer uma reflexão pessoal sobre o que boa parte da literatura romântica discute: a paixão. No caso, a forma como os meus sentidos leem e experimentam a paixão no mundo real. Nada que eu já não tenha expurgado em poemas e escritas. É fato, que se não fosse pela tortuosidade das situações, boa parte do que escrevo não teria sentido e, como dizia Oscar Wilde, "a literatura seria praticamente impossível".

Quanto mais tempo dedico a conhecer os meandros da alma humana, menos sentido encontro na forma como lido com as relações que estabeleço, sejam elas de ordem pessoal ou profissional.

Sempre tive certa tendência ao melodrama e a romances idealizados, daqueles dignos de um folhetim do horário nobre. Talvez esse desejo de uma relação perfeita seja resultado do excesso de literatura romântica que li na adolescência. Está bem, não posso culpar Machado de Assis por conta disso, até mesmo porque bem se sabe como a maioria dos protagonistas termina em seus livros.

Confesso que após anos de tentativas e erros, de relações imaturas e de muito delírio, passei a compreender melhor os mecanismos de autossabotagem que transferia de uma relação para outra, que serviam como uma grande desculpa para a minha total ausência de compromisso. Esse padrão estabelecido fazia com que eu parecesse um serial killer dos relacionamentos. Calma, de sociopata não tenho nada, apenas uma cabeça um pouco perturbada no que se refere ao amor. Mas depois de uma coleção de romances fracassados aprendi a lidar melhor com estes mecanismos e abandonei meu modus operandi de serial killer.

Por mais interessante que o jogo da sedução seja, é uma dança que só é possível a dois e neste bailado a gente tem que prestar atenção aos limites e ao próprio sentido e rumo que se espera que esta história tome. Amor não é uma queda de braço ou testes de poder para ver quem está dando as cartas. Uma relação só se constrói com troca, com companheirismo, com vontade e desejo de ter o outro do seu lado. De gostar de estar junto e até mesmo de rir das piadas sem graça que o outro conta.

Não há espaço para jogos de poder apenas para jogos de amor.

Com o tempo aprendi coisas óbvias e simples que, a princípio, me pareciam sinais de fraqueza, de que estava perdendo o jogo, de que eu era a parte dominada na relação. E a esse primeiro alerta, corria léguas de distância e tratava de por um fim nos sentimentos que pareciam não caber na situação e muito menos em mim.

Não preciso dizer que este tipo de comportamento serial deixou atrás de si uma coleção de corações magoados e muita frustração. E neste jogo de poder, no fundo, o grande perdedor fui eu.

Portanto, o melhor é curtir a simplicidade do amor. Se está com vontade de ligar no dia seguinte, após a primeira ficada, faça, não espere dois, três dias para isso. É uma grande bobagem e não significa fraqueza, mas apenas que você curtiu muito a companhia do outro.

Se quiser mandar uma mensagem logo após o encontro, mesmo que você tenha acabado de entrar no carro, mande. O grande segredo das relações bem sucedidas é a disponibilidade. Se o outro estiver na mesma sintonia, as chances de uma grande história acontecer são grandes. Também se não acontecer, não se prive do seu direito de ser passional. Não se reserve ou se proteja. Não espere, viva!

Machado de Assis que me desculpe, mas deixei de lado a tendência serial que com certeza levaria ao mesmo desfecho dos seus protagonistas. A alma anda leve, cheia de possibilidades e aberta para o que a vida tem de melhor. Exerço meu direito de ser passional, apaixonado, romântico e feliz. Porque o único sentido possível para uma existência plena de realizações é ter um lastro de boas histórias e grandes amores.

E como dizia Vinícius de Moraes: "Que seja infinito enquanto dure".

Quem é o colunista: Alexandre Pontara.

O que faz: Paulista, radicado no Rio, Alexandre Pontara é uma mistura de ator, dramaturgo e produtor cultural.

Pecado gastronômico: Bolo Negro e Tiramissú de Chaika.

Melhor lugar do Brasil: Paraty.

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Atualizado em 6 Set 2011.