Por Pamela Cristina Leme
A indústria pornográfica mundial é dona de números impressionantes. Dados divulgados pela revista AVN ( Adult Video News) apontam que só no ano passado esse mercado pode ter girado US$ 4,3 bilhões nos Estados Unidos, quase a metade da bilheteria de Hollywood. Para se ter uma idéia, os filmes eróticos são tão procurados que contam até com uma premiação importante, a AVN Awards, uma espécie de Oscar do pornô, criado em 1984.Esse tipo de material não distingue sexo, raça ou poder aquisitivo. Toda pessoa, em qualquer momento da vida, pode ser uma consumidora em potencial. "Filmes pornográficos podem servir para excitar. Generalizando, posso dizer que somos voyers por natureza. Gostamos de ver, de ouvir e presenciar o prazer dos outros. Isto satisfaz, por exemplo, aqueles que têm vontade de fazer algo e não tem coragem ou quem não consegue chegar perto do parceiro", aposta a sexóloga mineira Patrícia Espírito Santo, autora do livro "O Lado Obscuro E Tentador Do Sexo" (Editora Ágora).
"A centralização dos filmes nas mulheres ocorre por causa dos maiores consumidores de filmes pornôs serem homens. Poucas mulheres gostam destes filmes. Os homens gostam porque a estimulação visual é a principal fonte de excitação sexual para eles." - João Batista Pedrosa, psicólogo e terapeuta sexual |
Por essa razão, muitos casais tentam encontrar nesse tipo de vídeo o alívio para um desinteresse sexual provocado pela rotina. Para o ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Júnior, diretor do Instituto Brasileiro de Sexologia, do Rio de Janeiro, os filmes pornôs são válidos para aquecer a vida sexual, já que, como os acessórios eróticos ou uma música bem escolhida, ajudam a estimular a criatividade da dupla e ainda atenuam ansiedades geradas por vontades reprimidas. "Mas é fundamental que os dois sintam prazer com o vídeo", aponta.
Isso porque cada um tem uma reação diferente diante desses filmes. Nem mesmo todos os homens reagem da mesma forma, assim como as mulheres. "Existem homens que odeiam, outros recriminam, outros amam, outros não vivem sem. Alguns não têm reação nenhuma ao assistir. O fato é que os homens apreciam mais esses vídeos", salienta Patrícia. Não à toa, o maior público-alvo da indústria pornô é masculino - ainda que, no caso feminino, elas podem sim gostar do que vêem.
"Ao contrário do que muita gente pensa, a mulher tem toda a capacidade física de sentir prazer assistindo a um filme pornô ou vendo um show de sexo explícito. Seus maiores impedimentos são a educação e a cultura na qual estamos inseridos", acrescenta a sexóloga. De acordo com ela, a maioria das mulheres aprende desde a infância que o prazer do sexo está vinculado ao amor - "é bom que venha junto, mas pode vir separado", destaca -, diferente do que acontece com os homens. Caso contrário, a ala feminina teria ainda mais chances de se deliciar com os filmes eróticos.
O psicólogo e terapeuta sexual João Batista Pedrosa garante que poucas mulheres gostam desses filmes. "Os homens gostam porque a estimulação visual é a principal fonte de excitação sexual para eles. A mulher valoriza outras fontes de reforço para essa mesma excitação, como carinho (tato), ouvir palavras (audição) e situações românticas", expõe. Sendo assim, o material pornô é incapaz de salvar, sozinho, um casamento desgastado pelo sexo morno.
"Não que a nudez masculina seja proibida. Ela, socialmente, não é atraente. Isto porque as mulheres são educadas desde criança a valorizar, acima de qualquer coisa, a educação do homem, seu caráter, sua disposição para o trabalho e sua capacidade de proteção. Afinal, não são estes os papéis masculinos? O corpo fica em segundo plano, ou melhor, no plano no profano, porque está ligado à carne. O que não acontece com o homem. A educação dele se difere da dela no que se refere ao corpo. Está certo que ele também, para casar e procriar, precisa de uma mulher de princípios e bons valores morais, mas seu papel de homem o permite procurar mulheres apenas para saciar sua masculinidade." - Patrícia do Espírito Santo, sexóloga |
Relação de troca
Segundo os especialistas consultados para a reportagem, sempre que alguém se vincula a um objeto ou situação e não há um outro ser humano, aí sim é preciso atenção. E isso vale para qualquer artifício: vibrador, filme pornô ou boneca inflável. "Se o prazer está condicionado sempre a outra coisa que não a presença de um ser humano, ele é considerado um desvio sexual. Normalmente, quem não consegue se vincular a outro ser humano tem problemas de relacionamento de uma maneira geral, em família, no trabalho, entre grupos de colegas e amigos. A função sexual, neste caso, apenas reflete um problema muito maior", salienta Patrícia Espírito Santo. Em outras palavras, se um casal se sente atraído um pelo outro e utiliza algum recurso além deles dois para apimentar a relação, não há problema.
Mas e como fica a tão falada relação de troca durante o sexo (possível com ou sem amor), já que o vídeo pornográfico não apresenta carinho, respeito ou tentativas de entender os sentimentos e necessidades do outro? "Não há vínculos, sem dúvida. É o sexo pelo sexo", salienta a sexóloga. "Mas não podemos dizer que sempre vai trazer prejuízos. Se o casal utiliza as cenas apenas para ´esquentar´ a relação, para aprender alguma posição nova, é um benefício". Para ela, na hora de colocar o vídeo para rodar, basta fazer uma simples questão: o que busco ao assistir um filme pornô?
Fotos ilustrativas: Stock.XCHNG
Atualizado em 10 Abr 2012.